- Num celeiro nas traseiras do...
- Não quero ouvir nomes - interrompeu o padre com azedume.
- Bom, foi lá em cima no sótão desse celeiro, e a rapariga e ... e um tipo estavam a dizer coisas ... a dizer coisas indecentes e eu deixei-me ficar.
- Devias ter ido embora. Devias ter dito à rapariga para se ir embora.
Devia ter ido embora! Não podia contar ao Padre
Schwartz como o pulso lhe batia, como uma excitação estranha e romântica se apoderara dele quando disseram aquelas coisas esquisitas. Talvez que nas casas de correcção, entre as raparigas incorrigíveis de olhos tristes e duros, se possam encontrar aquelas por quem ardeu o fogo mais branco.
- Tens mais alguma coisa para me contar?
- Acho que não, Padre.
Rudolph sentiu um grande alívio. A transpiração desaparecera debaixo dos dedos apertados.
- Tens dito mentiras?
A pergunta alarmou-o. Como todos que mentem por hábito e por instinto, tinha um enorme respeito e temor pela verdade. Algo de quase exterior a si próprio ditou uma resposta rápida e magoada. - Ah não, Padre. Eu nunca minto.
Por um momento, como o homem do povo na cadeira do rei, saboreou o orgulho da situação. Depois, quando o padre começou a murmurar conselhos convencionais, compreendeu que, ao negar heroicamente ter dito mentiras, cometera um pecado terrível: tinha mentido na confissão.
Numa reacção automática ao «reza o Acto de Contrição» do Padre Schwartz, começou a repetir em voz alta, sem convicção:
- Oh, meu Deus, lamento de todo o coração ter-Te ofendido...
Agora tinha de tratar daquilo - era um grande erro - mas quando os dentes se lhe fecharam sobre as últimas palavras da oração houve um som breve e a grade fechou-se.