Um minuto depois, quando saiu para o crepúsculo, o alívio por ter saído da igreja quente e húmida para um mundo exterior de trigo e céu adiou a percepção completa do que tinha feito. Em vez de se preocupar, respirou fundo o ar fresco e começou a dizer muitas vezes para si as palavras «Blatchford Sarnemington, Blatchford Sarnemington!»
Blatchford Sarnemington era ele próprio, e estas palavras eram de facto um verso.
Quando se transformava em Blatchford Sarnemington uma dignidade delicada emanava dele. Blatchford Sarnemington vivia em enormes triunfos. Quando Rudolph semicerrava os olhos queria dizer que Blatchford o dominara e, à medida que avançava havia no ar murmúrios de inveja: «Blatchford Sarnemington! Lá vai Blatchford Sarnemmgton.»
Agora, por uns momentos, era Blatchford, enquanto se pavoneava em direcção a casa ao longo da estrada irregular mas, quando a estrada mudou para macadame para se transformar na rua principal de Ludwig, a alegria de Rudolph enfraqueceu e o espírito esfriou, ele sentiu o horror da sua mentira. Deus, está claro, já sabia, mas Rudolph reservava um cantinho no seu espírito onde estava livre de Deus, onde preparava os subterfúgios com que muitas vezes enganava Deus. Escondendo-se agora nesse canto cogitou na melhor maneira de evitar as consequências da sua falsidade.
Tinha de evitar a todo o custo a comunhão no dia seguinte. O risco de irritar Deus em tal medida era demasiado grande. Teria de beber água «por engano» de manhã e, assim, de acordo com uma lei da Igreja, ficava incapacitado de receber a comunhão nesse dia. Apesar de toda a sua falta de solidez, este subterfúgio era o mais praticável que lhe ocorria. Aceitava os seus riscos e concentrava-se na maneira de o por em prática, quando voltou a esquina junto do «Romberg's Drug Store» e avistou a casa do pai.