- Bem, vem até cá ver-me.
- Tens a certeza de que não estavas para ir para a cama?
- Não, santo Deus! - exclamou ela - estava aqui sentada a tomar um whisky sozinha. Diz ao homem do táxi...
Durante o caminho Donald analisou a conversa.
As suas palavras «no aeroporto» indicavam que tinha conservado a sua posição na alta burguesia. A solidão de Nancy podia ser sinal de que se transformara numa mulher sem atractivos e sem amigos. O marido podia ter saído, ou já estar deitado. E- porque ela tinha sempre dez anos nos seus sonhos - o whisky chocou-o. Mas recompôs-se com um sorriso - ela estava muito perto dos trinta.
No fim de uma curva viu uma pequena beldade de cabelos escuros contra a porta iluminada, com um copo na mão. Surpreendido por a ver finalmente materializada, Donald saiu do táxi dizendo:
- Mrs. Gifford?
Ela voltou-se na luz do átrio e encarou-o com olhos muito abertos e perscrutadores. Um sorriso irrompeu da expressão de espanto.
- Donald - és mesmo tu - todos mudamos tanto. Oh, é extraordinário.
Ao entrarem, as vozes de ambos diziam as palavras «todos estes anos», e Donald sentiu uma fraqueza no estômago. Era em parte motivada pela recordação do último encontro, quando ela passara por ele de bicicleta quase o atropelando, e em parte pelo receio de não terem nada para dizer. Era como uma reunião de colégio - mas aí a dificuldade de encontrar o passado era disfarçada pela ocasião alegre e confusa. Aterrado, apercebeu-se de que aquela podia ser uma hora longa e vazia. Mergulhou nela em desespero.
- Sempre foste encantadora. Mas estou um pouco chocado por te ver tão linda como estás.
Deu resultado. O reconhecimento imediato da mudança de ambos, o cumprimento ousado transformou-os em estranhos interessantes em vez de desajeitados amigos de infância.