Edith teve consciência de que o clamor rebentara subitamente sobre eles como uma nuvem de chuva, de que na escada havia o estrondo de muitos pés, de que Henry lhe agarrara no braço e a puxara para trás, para o fundo do escritório. Então a porta abriu-se e uma catadupa de homens enfiou pela sala dentro - não os chefes, mas simplesmente os que por acaso vinham à frente.
- Ora vivam!
- Estão um bocado atrasados, não estão?
- Vocês e a vossa pequena. Rai's vos partam!
Ela notou que dois soldados muito bêbedos tinham sido empurrados para a frente, onde cambaleavam com expressões imbecis; um era baixo e moreno, o outro alto e com o queixo fino.
Henry deu um passo em frente e levantou a mão. - Amigos! - disse.
O clamor abrandou para um silêncio momentâneo, pontuado de murmúrios.
- Amigos! - repetiu com os olhos distantes fixos por sobre as cabeças da multidão. - Não estais a insultar ninguém senão a vós próprios ao entrar hoje aqui. Temos ar de gente rica? Parecemo-nos com Alemães? Pergunto-vos com toda a lealdade...
- Caluda!
- Mete a viola no saco!
- Olha lá, quem é a amiguinha, pá?
Um homem vestido à civil, que estivera a vasculhar uma mesa, levantou de repente um jornal.
- Cá está! - gritou. - Queriam que os Alemães ganhassem a guerra!
Nova catadupa surgiu das escadas e a sala ficou subitamente cheia de homens, todos à volta do pequeno grupo lívido ao fundo da sala. Edith viu que o soldado alto de queixo magro estava ainda à frente. O baixo e moreno desaparecera.
Desviou-se ligeiramente para trás, ficou de encontro à janela aberta por onde entrava uma pura lufada do ar fresco da noite.
Então a sala ficou num pandemónio. Ela percebeu que os soldados se precipitavam para a frente, viu de relance o homem gordo agitando uma cadeira por cima das cabeças e, de súbito, as luzes apagaram-se e ela sentiu o roçar de corpos quentes debaixo de tecidos grosseiros, os ouvidos cheios da gritaria, do tropel e de respirações arfantes.