A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 47 / 182

Gus Rose, sóbrio mas um tanto aturdido, deve ser classificado como um dos personagens tristes. A maneira como viera da Rua 44 para a Rua 59, depois dos motins, era apenas uma recordação vaga. Vira o corpo de Carrol Key ser metido numa ambulância e levado, e então dirigira-se para a parte alta da cidade com dois ou três soldados. Algures, entre as Rua 44 e 59, os outros soldados encontraram umas mulheres e desapareceram. Rose vagueou até Columbus Circle e escolheu as luzes brilhantes do Child’s para satisfazer a sua ânsia de café e de farturas. Entrou e sentou-se.

À sua volta flutuavam no ar conversas inconsequentes e risos esganiçados. Primeiro não conseguiu compreender, mas depois de cinco minutos de espanto percebeu que se tratava do rescaldo de alguma festa divertida. Um homem sorridente vagueava fraternal e familiarmente por aqui e por ali, entre as mesas, dando apertos de mão indiscriminadamente e parando de vez em quando para uma pequena conversa brincalhona, enquanto os criados excitados, transportando pelo ar pães e ovos, o amaldiçoavam em silêncio e lhe davam encontrões para o tirarem do caminho. Para Rose, sentado à mesa mais escondida e menos cheia, tudo aquilo era um circo colorido, de beleza e de prazer desenfreado.

Uns momentos depois foi-se aos poucos dando conta de que o casal sentado em diagonal com ele, de costas voltadas para a multidão, não era o par menos interessante da sala. O homem estava bêbedo. Tinha vestido um «smoking» com uma gravata desapertada e uma camisa cheia de pingos de água e de vinho. Os olhos, baços e raiados de sangue, vagueavam estranhamente de um lado para o outro. A respiração saía-lhe dos lábios arquejante.

- Aquele andou no pagode! - pensou Rose.

A mulher estava quase, se não completamente, sóbria.





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