O Grande Gatsby - Cap. 6: Capítulo VI Pág. 105 / 173

- Gosto dela - disse Daisy -, acho-a linda!

Mas tudo o mais a ofendia - e sem polémica possível, porque não era um simples gesto mas uma verdadeira emoção. Ela estava chocada com West Egg, com esta «quinta» sem precedentes, engendrada pela Broadway numa aldeia piscatória de Long Island - chocada com o rude vigor que corroía pela base os velhos eufemismos e com o destino demasiado obstrutivo dos seus habitantes, arrebanhados ao longo de um atalho que os conduzia do nada para o nada. A verdadeira simplicidade, ininteligível para ela, inspirava-lhe terror.

Sentei-me com eles nos degraus da entrada, enquanto esperavam pelo seu automóvel. À nossa frente estava escuro; só a porta projectava dez pés quadrados de luz intensa na escuridão da suave madrugada. Por vezes, uma sombra movia-se diante do estore do quarto de vestir; em cima, dava lugar a outra sombra, a uma indefinida procissão de fantasmas, que se maquilhavam a um espelho invisível.

- Mas; afinal, quem é este Gatsby? - perguntou Tom de repente. - Algum contrabandista de álcool dos grandes? - Onde é que ouviu dizer isso? - perguntei eu.

- Não ouvi dizer. Calculei. Fique sabendo que a maior parte destes novos-ricos não são senão contrabandistas de bebidas alcoólicas.

- Mas o Gatsby não é - respondi laconicamente.

Ficou calado um instante. O saibro da álea estalava-lhe debaixo dos pés:

- Bom, mas deve-lhe ter dado bom trabalho reunir todos estes espécimes.

A brisa agitou o pêlo cinzento da estola de Daisy.

- Ao menos, são mais interessantes do que as pessoas que nós conhecemos - disse ela com esforço. - Não me pareceste assim tão interessada.

- Mas estava!

Tom riu-se e voltou-se para mim:

- Reparou na cara da Daisy quando aquela rapariga lhe pediu que lhe desse um duche de água fria?

Daisy começou a cantar ao som da música, num cicio cavo e rítmico, que conferia a cada palavra sua um significado que nunca tivera nem voltaria a ter.





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