- Ela não gostou da festa - disse imediatamente.
- Mas é claro que gostou.
- Não gostou, não -- insistiu ele. - Não se divertiu nada.
Calou-se e eu adivinhei-lhe a inexprimível depressão.
- Sinto-me muito distante dela -- disse ele. - É difícil fazê-la compreender.
- Refere-se ao baile?
- O baile? - Com um estalar de dedos, repudiou todos os bailes que já tinha dado. - Não é o baile que importa, meu velho!
O que ele queria de Daisy era tão-somente que ela fosse ter com Tom e lhe dissesse: «Nunca te amei.» Só depois de ela ter riscado aqueles quatro anos com esta simples frase é que eles poderiam decidir sobre as medidas mais práticas a tomar. Uma delas era que, mal ela ficasse livre, haviam de voltar a Louisville para se casarem na casa dela... tal como se fosse há cinco anos atrás.
-E ela não compreende isso! - disse ele. - Antigamente era capaz de entender. Ficávamos horas sentados...
Fez uma pausa e começou a andar para lá e para cá de um caminho desolado, coberto de cascas de fruta, objectos de adorno e flores esmagadas.
- Se fosse eu, não exigia demasiado dela - arrisquei-me a dizer. - O passado não se repete.
- O passado não se repete? - exclamou, incrédulo. - Mas é claro que se repete!
Olhou, esgazeado, à sua volta, como se o passado estivesse à espreita dele ali mesmo, na sombra da casa, ainda que fora do seu alcance.
- Vou preparar tudo exactamente como antes - disse, acenando com determinação. - Ela vai ver!
Falou muito sobre o passado e fui levado a concluir que ele pretendia recuperar qualquer coisa, uma ideia de si mesmo, talvez, que tinha entrado no seu amor por Daisy. Desde então, a vida tinha-se-lhe tornado desordenada e confusa, mas se ele pudesse algum dia voltar a um certo ponto de partida e percorrê-lo, lentamente, de fio a pavio, havia de descobrir que coisa era essa.