O Grande Gatsby - Cap. 7: Capítulo VII Pág. 118 / 173

- Que é que sente?

- Estou esgotado.

- Então posso servir-me? - perguntou Tom. - Mas ao telefone estava bem espevitado!

Com esforço, Wilson saiu da sombra e do apoio da ombreira da porta e, respirando com dificuldade, desatarraxou o tampão do depósito de gasolina. À luz do dia, o seu rosto parecia verde.

- Não queria interromper-lhe o almoço - disse. - Mas como ando muito mal de dinheiro, queria saber o que tencionava o senhor fazer com o seu carro velho.

- Que lhe parece este? - perguntou Tom. - Comprei-o a semana passada.

- O amarelo é muito bonito! - disse Wilson, enquanto se esforçava a dar à bomba.

- Quer comprá-lo?

- Assim eu pudesse! - disse Wilson, e sorriu, abatido. - Esse não, mas com o outro podia fazer algum dinheiro.

- Mas para que é que quer o dinheiro, assim de repente?

- Já estou farto de viver aqui. Quero ir-me embora. A minha mulher e eu queremos ir para o Oeste.

- A sua mulher também quer ir? - exclamou Tom, alarmado.

- Há dez anos que fala nisso - descansou um momento contra a bomba, protegendo os olhos do sol. - E agora vai mesmo, quer ela queira ou não queira. Daqui, hei-de eu levá-la!

O coupé passou por nós num relâmpago, com uma lufada de pó e uma mão a acenar.

- Quanto lhe devo? - perguntou Tom asperamente.

- De há dois dias para cá é que eu comecei a abrir os olhos e a perceber umas certas coisas - observou Wilson. - É por isso que eu me quero ir embora. E por isso é que tenho andado a maçá-lo com a história do carro.

- Quanto lhe devo?

- Um dólar e vinte.

O calor implacável começava a confundir-me e passei ali um mau bocado antes de compreender que, até agora, não era sobre Tom que as suspeitas de Wilson recaíam. Descobrira que Myrtle tinha uma vida qualquer à parte da sua, num outro mundo, e o choque deixara-o fisicamente doente.





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