O Grande Gatsby - Cap. 7: Capítulo VII Pág. 129 / 173

Passou-lhe, e ele começou a falar exaltadamente para Daisy, negando tudo, defendendo o seu nome contra acusações que nem sequer lhe tinham sido feitas. Mas, como a cada palavra sua ela se encolhia mais e mais, ele acabou por desistir e só o sonho morto continuou a debater-se na tarde que se escapulia, esforçando-se por tocar o que deixara de ser tangível, lutando em vão, mas desesperadamente, por recuperar aquela voz perdida no outro lado da sala.

E a voz tornou a suplicar que nos fôssemos embora:

- Por favor, Tom! Não aguento mais isto!

Os seus olhos, assustados diziam que todas as intenções, toda a coragem que tivera, se tinham ido para sempre.

- Vocês os dois vão indo para casa, Daisy - disse Tom. - No carro do senhor Gatsby.

Ela olhou para Tom, agora alarmada, mas ele insistiu com magnânimo desdém:

- Vai lá! Ele não vai molestar-te. Acho que já percebeu que o seu presunçoso galanteio acabou.

E assim partiram, sem uma palavra, separados, tornados acidentais, isolados como fantasmas, mesmo da nossa piedade.

Passado um momento, Tom levantou-se e começou a embrulhar na toalha a garrafa de uísque, que continuava intacta.

- Querem alguma coisa daqui? Jordan?.. Nick? Não respondi.

- Nick? - voltou a perguntar-me.

- O quê?

- Quer um copo?

- Não... Estava agora mesmo a lembrar-me de que faço anos hoje.

Fazia trinta anos. E diante de mim estendia-se a portentosa e ameaçadora estrada de uma nova década.

Eram sete horas da tarde quando nos metemos com ele no coupé e partimos para Long Island. Tom falava sem cessar, exultante e risonho, mas a sua voz era tão estranha a Jordan e a mim como o clamor dos forasteiros nos passeios, ou o tumulto da ferrovia aérea por cima de nós. A simpatia humana tem os seus limites, e agradava-nos deixar que todas aquelas trágicas discussões se extinguissem atrás de nós como as luzes da cidade.





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