O Grande Gatsby - Cap. 1: Capítulo I Pág. 13 / 173

Baker falavam ao mesmo tempo, discretamente e com uma inconsequência bem-humorada que nunca chegava a ser tagarelice, mas que era tão fresca como os seus vestidos brancos e os seus olhos impessoais, na ausência de todo o desejo. Estavam aqui e aceitavam-nos, a Tom e a mim, fazendo apenas um delicado e agradável esforço para divertir ou serem divertidas. Sabiam que o jantar estava prestes a acabar e que, pouco depois, também a noite chegaria ao seu fim e seria, naturalmente, sepultada. Era nitidamente diferente do que se passava no Oeste, onde a noite corria apressada, de uma fase à outra, em direcção ao seu fecho, numa antecipação contínua de desapontamento, senão no temor estranho e nervoso do próprio momento.

- Você faz-me sentir incivilizado, Daisy - confessei eu ao segundo copo daquele clarete delicioso, ainda que a saber a rolha. - Não é capaz de falar de colheitas ou de qualquer coisa do género?

Com esta observação, não pretendi dizer nada em especial, mas ela foi recebida de uma forma inesperada.

- A civilização está a cair aos bocados - irrompeu Tom com violência. - Tornei-me terrivelmente pessimista acerca das coisas. Por acaso já leu The Rise of the Coloured Empires, por um tal Goddard?

- Não, de facto, nunca li - respondi-lhe, deveras surpreendido pelo seu tom de voz.

- Bom, é um excelente livro e toda a gente devia lê-lo.

A ideia é esta: se nós, a raça branca, não nos acautelamos, acabamos por ser completamente afundados. É científico; está provado.

- O Tom está a ficar muito profundo - disse Daisy com uma expressão de irreflectida tristeza. - Só lê livros profundos, com palavras muito compridas. Qual foi a palavra que nós...

- Bom, todos estes livros são científicos - insistiu Tom, olhando impacientemente para ela.





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