O Grande Gatsby - Cap. 7: Capítulo VII Pág. 131 / 173

naturalmente, saber o que se passara, mas Wilson não disse palavra - começou, em vez disso, a lançar curiosos e desconfiados olhares ao seu visitante e a perguntar-lhe o que tinha feito a certas horas e em certos dias. Está este último já a ficar embaraçado, quando um grupo de operários passou à porta do seu restaurante e Michaelis aproveitou a oportunidade para se safar, na intenção de ali voltar mais tarde, mas não voltou. Talvez se tenha simplesmente esquecido. Quando, pouco depois das sete, voltou cá fora, veio-lhe à mente a conversa, porque ouviu a senhora Wilson, já na garagem, em altos berros.

- Vá, bate-me! - gritava ela. - Atira-me ao chão e bate-me, anda, seu cobardolas nojento!

Um instante depois, saiu a correr para o lusco-fusco, a gesticular e a gritar - e antes que ele conseguisse descolar da sua porta, já o caso estava arrumado.

O «carro da morte», como lhe chamaram depois os jornais, não parou; surgiu da escuridão que aumentava, descreveu tragicamente alguns 5S e desapareceu na curva seguinte. Michaelis nem sequer estava certo da cor dele disse ao primeiro polícia que apareceu que era verde-claro. O outro carro, que ia em direcção a Nova Iorque e, portanto, em sentido contrário, veio a parar cem jardas mais à frente e o motorista voltou a correr, para trás, onde Myrtle Wilson, violentamente arrancada à vida, ficara de bruços na estrada, misturando o sangue escuro e espesso com o pó.

Este homem e Michaelis foram os primeiros a chegar ao pé dela, mas quando lhe arrancaram a blusa ainda húmida de suor, viram que tinha o seio esquerdo truncado, pendente como um naco de carne, e que já nem valia a pena escutar-lhe as pulsações por debaixo dele. A boca toda aberta e levemente rasgada aos cantos, como se ao abandonar a tremenda vitalidade que por tanto, tempo armazenara tivesse estado a ponto de sufocar.





Os capítulos deste livro