- O apelido de casada é Wilson. O marido dela é o dono da garagem. Mas, c' os diabos, como foi isso ?
- Bom, ainda tentei virar o volante... - Calou-se, e de repente adivinhei a verdade.
- Era a Daisy que vinha a guiar?
- Era - disse ele, passado um instante -, mas é claro que direi sempre que era eu. Sabe, quando saímos de Nova Iorque ela estava muito nervosa e pensou que, conduzindo, acalmava... E precisamente no momento em que passávamos por um carro que ia em sentido contrário vinha essa mulher a correr para nós. Passou-se tudo num minuto, mas pareceu-me que ela vinha para nos falar, tomando-nos, talvez, por alguém que ela conhecia. Bom, primeiro a Daisy guinou o carro para não ir contra a mulher, mas quando deu com outro automóvel, descontrolou-se e voltou à posição anterior. No mesmo segundo em que deitei a mão ao volante; senti o embate... e ela deve ter tido morte instantânea.
- Ficou toda esfacelada...
- Nem me conte, meu velho! - estremeceu. - De qualquer forma... a Daisy carregou no acelerador. Tentei fazê-la parar, mas ela não conseguiu, e eu puxei o travão de emergência. Então desmaiou-me no colo e conduzi eu até ao fim.
- Amanhã já está boa - disse ele, logo a seguir. - Vou ficar aqui à espera só para ver se o marido a maltrata por causa do desentendimento que houve esta tarde. Ela fechou-se à chave no quarto e, se ele tentar qualquer brutalidade, ela faz-me um sinal de apagar e acender a luz.
- Garanto-lhe que ele nem lhe toca - disse eu. - Não é ela que de momento o preocupa. - Não confio nele, meu velho.
- Quanto tempo vai ficar aqui à espera?
- Toda a noite, se for preciso. Enfim, até todos se deitarem.
Ocorreu-me outra hipótese: suponhamos que Tom descobria que era Daisy que vinha a guiar.