Podia perfeitamente relacionar isto com a morte... Podia pensar o que quisesse. Olhei para a casa: havia duas ou três janelas iluminadas em baixo e a claridade rosada do quarto de Daisy no andar de cima.
- Espere aqui - disse eu -, vou ver se há algum sinal de agitação.
Voltei para trás pela beira do relvado, atravessei o saibro de mansinho e subi os degraus para a varanda em bicos de pés. As cortinas da sala de visitas estavam abertas mas não havia lá ninguém. Atravessando a galeria onde tínhamos jantado naquela noite de Junho, três meses ante~, cheguei a um pequeno rectângulo de luz que supus ser a Janela da copa. O estore estava descido, mas descobri uma greta no peitoril e espreitei.
Daisy e Tom estavam sentados, frente a frente, à mesa da cozinha, com uma travessa de frango frito entre eles e duas garrafas de cerveja. Ele estava concentrado a falar-lhe, inclinado para ela, e na sua concentração deixara cair a mão sobre a dela, cobrindo-a. Uma vez por outra, ela erguia os olhos para ele e acenava um assentimento.
Não tinham um, ar feliz e nenhum deles tocara no frango nem na cerveja - mas tristes também não pareciam. Remava claramente, naquele rectangulozinho, uma atmosfera de natural intimidade e qualquer pessoa teria dito que estavam ali em conspiração.
Ao descer do pórtico em bicos dos pés, ouvi o meu táxi a subir às apalpadelas a negra estrada, a caminho da casa. Gatsby continuava à espera no mesmo sítio onde eu o deixara.
- Está tudo calmo lá dentro? - perguntou com ansiedade.
- Sim, está tudo calmo - hesitei. - Era melhor vir para casa e dormir um bocado.
Ele abanou a cabeça.
- Fico aqui à espera que Daisy vá para a cama. Boa noite, meu velho.
Meteu as mãos nos bolsos do casaco e voltou zelosamente a ficar de sentinela à casa, como se a minha presença profanasse a sua sagrada vigília.