O Grande Gatsby - Cap. 1: Capítulo I Pág. 15 / 173

a inclinar para a frente, sem respirar, enquanto a ouvia - e então o brilho apagou-se, cada raio de sol a foi deixando com demorado pesar, como crianças a abandonarem, ao crepúsculo, uma rua, onde, contentes, brincavam.

O mordomo voltou e segredou qualquer coisa ao ouvido de Tom, ao que Tom franziu o sobrolho, empurrou a cadeira para trás e, sem uma única palavra, foi para dentro. Como se a sua ausência acelerasse qualquer coisa dentro dela, Daisy voltou a inclinar-se para a frente, com a sua voz calorosa e cantante.

- Adoro vê-lo à minha mesa, Nick. Faz-me lembrar, uma... uma rosa, uma perfeita rosa. Não faz? - Voltou-se para Miss Baker a pedir a confirmação:- Uma rosa absoluta?

Não era verdade. Não sou, nem de longe, como uma rosa. Ela estava só a improvisar, mas brotava dela um calor estimulante, como se o seu coração tentasse aparecer em público, disfarçado numa dessas palavras emocionantes e arrebatadoras. Depois, subitamente, atirou o guardanapo para cima da mesa, pediu licença e entrou em casa.

Miss Baker e eu trocámos um breve olhar, conscientemente destituído de qualquer significado. Preparava-me eu para falar, quando ela se pôs em posição de alerta e disse «Psiu!» em tom de advertência. Da outra sala chegava-nos um murmúrio de paixão contida e Miss Baker inclinou-se para a frente, descaradamente, a tentar ouvir. O murmúrio estremeceu à beira da coerência, afundou-se, subiu exaltadamente e a seguir cessou por completo.

- O tal senhor Gatsby de que falou é meu vizinho - comecei.

- Não fale. Quero ouvir o que se passa.

- Mas passa-se alguma coisa? - indaguei inocentemente.

- Quer com isso dizer que não sabe?- disse Miss Baker, honestamente surpreendida. - Julguei que toda a gente sabia.

- Eu não sei nada.





Os capítulos deste livro