Nunca me dissera claramente se os pais já tinham morrido. Mas não encontrei nada, além do retrato de Dan Cody, símbolo de passada violência, a fitar-me da parede.
Na manhã seguinte, mandei o mordomo a Nova Iorque com uma carta para Wolfshiem, a pedir-lhe informações e instando-o a vir no primeiro comboio, pedido que me pareceu supérfluo, ao escrevê-lo. Tinha a certeza de que ele viria assim que lesse os jornais, como certo estava de que haveria um telegrama da Daisy, ainda antes do meio-dia - mas nem o telegrama, nem o senhor Wolfshiem vieram; não veio ninguém, a não ser mais polícias, jornalistas e fotógrafos. Quando o mordomo me trouxe a resposta de Wolfshiem, comecei a sentir-me revoltado, solidário com Gatsby no desprezo por todos eles.
Caro senhor Carraway:
Foi um dos choques mais terríveis da minha vida, mal consigo acreditar que seja verdade. Um acto de loucura como o desse homem é para nos dar que pensar. Não posso ir agora aí, porque tenho em mãos um negócio muito importante e não posso imiscuir-me nisso. Se houver alguma coisa que eu possa fazer, mais adiante, mande-me dizer por carta, através do Edgar. Mal sei onde tenho a cabeça, ao receber uma notícia destas, e sinto-me completamente fora de mim. Sinceramente seu,
MEYER WOLFSHIEM
E num post scriptum apressado, acrescentava:
Peço-lhe que me informe do funeral, etc., não conheço ninguém da família dele.
Quando, nessa tarde, o telefone tocou e da Interurbana me disseram que era uma chamada de Chicago, pensei que fosse Daisy, finalmente. Mas feita a ligação, chegou-me a voz de um homem, muito sumida e distante.
- Fala Slagle...
- Sim? - O nome era-me desconhecido.
- Mas que notícia mais diabólica, hem? Recebeu o meu telegrama?
- Não veio telegrama nenhum.