- Sou o senhor Carraway - disse eu.
- Oh! -pareceu aliviado. - Daqui fala Klipspringer.
Até eu fiquei aliviado, pois julguei poder contar com mais um amigo de Gatsby no seu funeral. Porque não queria que a notícia viesse nos jornais, para não atrair uma multidão de curiosos, tinha-me dado ao trabalho de telefonar directamente a algumas pessoas. Mas era difícil encontrá-las.
- O funeral é amanhã - disse-lhe. - Às três da tarde, a sair aqui de casa. Agradeço-lhe que avise quem estiver interessado.
- Assim farei! - interrompeu-me ele, à pressa. - Não é muito provável que veja alguém, mas se vir, eu digo.
O seu tom fez-me desconfiar.
- É claro que conto consigo!
- Bom, vou fazer o possível por ir. Mas a razão por que estou a telefonar é...
- Espere aí! - interrompi-o. - Porque é que não me diz já que vem?
- Bom, a verdade é que... para ser sincero, estou em casa de umas pessoas amigas, aqui em Greenwich, e elas estão a contar comigo para amanhã. Estão a pensar fazer um piquenique, ou coisa parecida. Evidentemente que vou fazer os possíveis por me escapar.
Proferi um irreprimível «Huh!» que ele deve ter ouvido, pois continuou com nervosismo:
- Telefonei por causa de um par de sapatos que aí deixei. Queria perguntar-lhe se não seria demasiado incómodo para si pedir ao mordomo que mos mandasse pelo correio. É que são sapatos de ténis, sabe, e fazem-me falta. O meu endereço é: «Ao cuidado de B. F.... »
Não ouvi o resto do nome, porque pousei o auscultador.
Depois disso, comecei a sentir-me envergonhado por Gatsby - um cavalheiro a quem telefonei deu-me a entender que ele tinha tido o que merecia. No entanto, a culpa foi minha, pois ele era um daqueles que costumavam zombar mais cruelmente de Gatsby, à custa das bebidas alcoólicas que ele próprio lhes oferecia, e eu devia ter tido isso em conta, antes de lhe telefonar.