O Grande Gatsby - Cap. 2: Capítulo II Pág. 30 / 173

Quando se deslocava de um lado para o outro, ouvia-se o tilintar incessante das inúmeras pulseiras de cerâmica que lhe ornavam os braços, em andamento concordante com o do seu corpo. Entrou com aquela ligeireza tão característica dos proprietários e olhou para o mobiliário em volta de um modo tão possessivo, que perguntei a mim mesmo se não seria aqui que ela morava. Mas quando lhe pus a questão, desatou a rir imoderadamente, repetiu a minha pergunta em voz alta e informou-me que vivia num hotel com uma amiga.

O senhor Mckee era um homem pálido e efeminado, que morava no andar de baixo. Acabara, decerto, de se barbear, pois trazia na maçã do rosto uma mancha branca de espuma de sabão, e cumprimentou todas as pessoas que estavam na sala da maneira mais deferente. Imediatamente me fez saber que estava no negócio das artes e mais tarde concluí que era fotógrafo e autor, ele próprio, da confusa ampliação da mãe da senhora Wilson, que pendia da parede como um ectoplasma. A mulher dele era esganiçada, lânguida, bem parecida e horrível. Contou-me com orgulho que desde que eram casados o marido a tinha fotografado cento e vinte e sete vezes.

A senhora Wilson tinha mudado de traje havia algum tempo e envergava agora um vestido de passeio muito trabalhado, de chiffon creme, que produzia um contínuo frufru quando ela se agitava de um lado para o outro da sala. Por influência da nova indumentária, também a sua personalidade tinha sofrido uma alteração: a enorme vitalidade, que na garagem tão notória tinha tido, convertera-se em impressionante bauteur: O seu riso, os seus gestos, as suas afirmações, tornavam-se, momento após momento, mais violentamente afectados e à medida que se expandia mais acanhado se tornava o espaço à sua volta, ao pomo de deixar crer que se revolvia sobre um eixo de ruído estridente, através do ar enfumarado.





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