O Grande Gatsby - Cap. 3: Capítulo III Pág. 55 / 173

- Que é que há? - perguntou calmamente. - Acabou-se a gasolina?

- Olhe!

Meia dúzia de dedos apontaram para a roda amputada - fixou-a por instantes e depois olhou para cima, como se suspeitasse que ela tinha caído do céu.

- Soltou-se! - explicou alguém.

Ele assentiu.

- Ao princípio notei que tínhamos parado.

Houve uma pausa. Depois, respirando fundo e endireitando as costas, perguntou com determinação:

- Alguém sabe dizer-me onde há um posto de gasolina? Pelo menos uma dúzia de homens, alguns deles ligeiramente em melhor estado do que ele, explicaram-lhe que entre a roda e o carro já não havia nenhum elo físico.

- Recuem lá! - sugeriu ele, passado um instante. - Ponham-no em marcha atrás!

- Mas falta-lhe uma roda! Hesitou.

- Não faz mal nenhum experimentar - disse.

O estridor das buzinas tinha atingido um crescendo e eu virei costas e pus-me a corta-mato pelo relvado, em direcção a minha casa. Virei-me uma vez para trás, a olhar. Uma lua em forma de bolacha, sobrevivente à barulheira do jardim ainda resplandecente, brilhava por cima da casa de Gatsby, tornando a noite tão pura como antes. Uma súbita vacuidade parecia brotar agora das janelas e das enormes portas, dotando de completo isolamento o vulto do anfitrião, que continuava de pé, no pórtico, com a mão erguida num gesto formal de despedida.

Lendo do princípio ao fim o que até agora escrevi, admito ter dado a impressão de que os acontecimentos de três noites, com várias semanas de intervalo, foram tudo o que então me absorveu. Mas, ao contrário, não passaram de factos casuais de um Verão repleto que, durante muito tempo, me absorveram infinitamente menos de que os meus assuntos pessoais.

Trabalhei a maior parte do tempo. De manhã cedo, ao descer apressado os brancos despenhadeiros da parte mais baixa de Nova Iorque, a caminho do Probity Trust, o sol projectava a minha sombra para oeste.





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