Um homem de guarda-pó comprido tinha-se apeado do carro sinistrado e estava agora parado no meio da estrada, a olhar, divertido e intrigado, do carro para o pneu e do pneu para os observadores.
- Vejam o que lhe aconteceu! - explicava. - Caiu na vala!
O facto causava-lhe um espanto infinito; reconheci primeiro a invulgar qualidade do espanto e só depois o homem - era o convidado de Gatsby que recentemente estivera na sua biblioteca.
- Como é que lhe aconteceu? Encolheu os ombros.
- Não percebo literalmente nada de mecânica - disse com decisão.
- Mas como foi que aconteceu? Embateu no muro?
- Não me perguntem como foi - disse Olhos de Coruja, lavando dali as suas mãos. - O que eu sei de condução é muito pouco... é praticamente nada. O que eu sei é que aconteceu.
- Mas se é tão mau condutor, não devia tentar conduzir de noite.
- Mas eu nem sequer estava a tentar - explicou com indignação. - Nem sequer tentei...
Um silêncio de pavor caiu sobre os circunstantes.
- Quer suicidar-se?
- A sua sorte foi ter sido só uma roda! Com que então é mau condutor e nem sequer estava a tentar!
- Os senhores não estão a perceber - explicou o réu. Eu não vinha a conduzir. Há outro homem no carro.
O choque que esta declaração provocou encontrou expressão num «Aaaah!» prolongado, à medida que a porta do coupé se abria lentamente. A multidão - agora era uma multidão - recuou involuntariamente e quando a porta se abriu completamente houve uma pausa espectral. Depois, muito gradualmente, peça por peça, um indivíduo pálido e desengonçado saiu, pelo seu pé, dos destroços, apalpando o terreno por tentativas, com um enorme e incerto pé de dança.
Encandeada com a luz dos faróis e confusa com o incessante roncar das buzinas, a aparição ficou a vacilar em pé, por momentos, antes de começar a distinguir o homem do guarda-pó.