O Grande Gatsby - Cap. 3: Capítulo III Pág. 54 / 173

Um homem de guarda-pó comprido tinha-se apeado do carro sinistrado e estava agora parado no meio da estrada, a olhar, divertido e intrigado, do carro para o pneu e do pneu para os observadores.

- Vejam o que lhe aconteceu! - explicava. - Caiu na vala!

O facto causava-lhe um espanto infinito; reconheci primeiro a invulgar qualidade do espanto e só depois o homem - era o convidado de Gatsby que recentemente estivera na sua biblioteca.

- Como é que lhe aconteceu? Encolheu os ombros.

- Não percebo literalmente nada de mecânica - disse com decisão.

- Mas como foi que aconteceu? Embateu no muro?

- Não me perguntem como foi - disse Olhos de Coruja, lavando dali as suas mãos. - O que eu sei de condução é muito pouco... é praticamente nada. O que eu sei é que aconteceu.

- Mas se é tão mau condutor, não devia tentar conduzir de noite.

- Mas eu nem sequer estava a tentar - explicou com indignação. - Nem sequer tentei...

Um silêncio de pavor caiu sobre os circunstantes.

- Quer suicidar-se?

- A sua sorte foi ter sido só uma roda! Com que então é mau condutor e nem sequer estava a tentar!

- Os senhores não estão a perceber - explicou o réu. Eu não vinha a conduzir. Há outro homem no carro.

O choque que esta declaração provocou encontrou expressão num «Aaaah!» prolongado, à medida que a porta do coupé se abria lentamente. A multidão - agora era uma multidão - recuou involuntariamente e quando a porta se abriu completamente houve uma pausa espectral. Depois, muito gradualmente, peça por peça, um indivíduo pálido e desengonçado saiu, pelo seu pé, dos destroços, apalpando o terreno por tentativas, com um enorme e incerto pé de dança.

Encandeada com a luz dos faróis e confusa com o incessante roncar das buzinas, a aparição ficou a vacilar em pé, por momentos, antes de começar a distinguir o homem do guarda-pó.





Os capítulos deste livro