O Grande Gatsby - Cap. 4: Capítulo IV Pág. 64 / 173

Estava, portanto, consciente das bizarras acusações que condimentavam a conversa nos seus salões.

- Juro-lhe por Deus que o que vou dizer-lhe é apura verdade. - Ergueu subitamente a mão direita para o céu, a invocar o testemunho e a justiça divinos. - Sou o único descendente vivo de uma abastada família do Middle West. Fui criado na América, mas educado em Oxford, porque foi aí que, durante muitos anos, todos os meus antepassados foram educados. É tradição na família.

Olhou-me de soslaio - e percebi então porque é que Jordan Baker estava convencida de que ele mentia. A frase «educado em Oxford» saiu-lhe à pressa, imperceptível ou engasgada, como se já o tivesse afligido antes, E com esta dúvida, todas as suas declarações caíram por terra e fiquei a matutar se, no fim de contas, não haveria mesmo algo um pouco sinistro acerca dele.

- De que parte do Middle West? - perguntei casualmente.

- São Francisco.

- Estou a ver.

- A minha família morreu toda e eu herdei uma boa fortuna.

A sua voz era solene, como se a memória daquela súbita extinção de um clã ainda o perseguisse. Suspeitei, por momentos, que ele estava a entrar comigo, mas bastou-me olhar para ele de relance para me convencer do contrário.

- Depois disso, vivi como um jovem rajá em todas as capitais da Europa - Paris, Veneza, Roma -, coleccionando jóias, principalmente rubis, caçando caça grossa, pintando umas coisas, só para mim, e tentando esquecer uma coisa muito triste que me tinha acontecido havia já muito tempo.

Foi preciso um certo esforço para conseguir dominar o meu riso de incredulidade. As próprias frases que usava estavam já tão gastas e banalizadas que não evocavam outra imagem que não fosse a de um «personagem» de turbante a transpirar serradura por todos os poros, em perseguição de um tigre no Bois de Boulogne.





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