O Grande Gatsby - Cap. 4: Capítulo IV Pág. 66 / 173

Foi tirada em Trinity Quad. O sujeito à minha esquerda é hoje o conde de Doncaster.

Era uma fotografia de grupo, com meia dúzia de rapazes de blazer, ociosamente debaixo de uma arcada, para lá da qual se avistavam inúmeros pináculos. Lá estava Gatsby - um pouco, mas não muito, mais novo - com uma pá de cricket na mão.

Afinal, era tudo verdade. Imaginei as peles de tigre a flamejarem no seu palácio do Grand Canal; vi-o abrir um cofre de rubis para atenuar, com a intensidade dos seus reflexos carmesins, os tormentos do seu coração despedaçado.

- Vou pedir-lhe hoje um grande favor - disse ele, metendo no bolso, com satisfação, as recordações que me mostrara -, e por isso pensei que era minha obrigação começar por dizer-lhe alguma coisa a meu respeito. Não queria que você pensasse que eu era para aí um zé-ninguém. Sabe, eu encontro-me habitualmente entre estranhos, porque enquanto sou arrastado por uns e por outros não tenho tempo para magicar nas tristezas da minha vida - hesitou. - Já lhe explico esta tarde a que é que me refiro.

- À hora do almoço?

- Não, esta tarde. Soube por acaso que você vai tomar chá com Miss Baker.

- Quer dizer que você está apaixonado por Miss Baker?

- Não, meu velho, não é nada disso. Miss Baker é que teve a amabilidade de aceder a falar-lhe neste assunto.

Não fazia a menor ideia que assunto era «este», mas estava mais aborrecido do que interessado em saber. Não fora expressamente para falar sobre o senhor Jay Gatsby que eu convidara Jordan a tomar chá. Tinha, porém, a certeza de que o favor que ia agora pedir-me era algo de absolutamente extravagante e por momentos arrependi-me de ter posto os pés no seu relvado superpovoado.

Não disse nem mais uma palavra. A medida que nos aproximávamos da cidade, a sua correcção aumentava.





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