O Grande Gatsby - Cap. 4: Capítulo IV Pág. 67 / 173

Passámos por Port Roosevelt, onde de fugida vimos os transatlânticos com a sua linha de flutuação vermelha, e acelerámos ao passar por um bairro pobre, pavimentado de godo, alinhado com obscuros e superpovoados bares dos anos de mil e novecentos, com os seus doirados já desbotados. Seguiu-se o vale de cinzas, aberto de ambos os lados, e ao passarmos pela bomba de gasolina, entrevi a senhora Wilson a dar à bomba com a anelante vitalidade que a caracterizava.

De guarda-lamas desdobrados como asas, irradiámos luz por meia Astoria - mas só por meia, porque, quando serpenteávamos por entre os pilares da via férrea aérea, ouvi o ruído familiar de uma motocicleta de bicilindro em V e, a correr ao nosso lado, apareceu um polícia frenético.

- Está certo, meu velho - bradou Gatsby e afrouxou.

Tirou da carteira um cartão branco e agitou-o em frente dos olhos do homem.

- Tem toda a razão! - concordou o polícia, tirando o chapéu em sinal de respeito. - Para a próxima já o reconheço, senhor Gatsby! Queira desculpar!

- Que foi que lhe mostrou? - perguntei. - O retrato de Oxford?

- É que, devido a um favor que fiz uma vez ao comissário, todos os anos pelo Natal ele me manda um cartão de Boas-Festas.

Transpusemos a grande ponte com o sol a passar por entre as vigas e a bruxulear sobre os carros em andamento e a cidade a erguer-se na outra margem do rio em pilhas brancas e tabletes de açúcar, todas elas construídas com a intenção de fazer esquecer o cheiro do dinheiro. Vista da Queensboro Bridge, Nova Iorque é a cidade que se vê, sempre, pela primeira vez, a eterna promessa desvairada do mistério e da beleza universais.

Passou por nós um defunto num carro funerário repleto de flores e seguido por dois automóveis de cortinas corridas e por outros carros de aspecto mais alegre, reservados aos amigos.





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