- Acha que está bem assim? - perguntei.
- Mas com certeza que está! Está óptimo!- e acrescentou ocamente: - ...Meu velho.
Por volta das três e meia, a chuva reduziu-se a uma leve neblina, na qual finas gotas de água flutuavam, de vez em quando, como orvalho. Gatsby folheou com alheamento um exemplar do Economics, de Clay, assustando-se de cada vez que a finlandesa, com o seu andar pesado, fazia tremer o chão da cozinha, e espreitando, de quando em quando, pelas janelas embaciadas, como se uma série de acontecimentos invisíveis e, no entanto, alarmantes, estivesse a ter lugar lá fora. Por fim, levantou-se e anunciou-me, numa voz insegura, que la para casa.
- A que se deve isso?
- Ninguém vem tomar chá. É tarde demais! - Olhou para o relógio como se tivesse algum compromisso a cumprir imediatamente. - Não posso ficar o dia inteiro à espera.
- Não seja tolo, ainda faltam dois minutos para as quatro.
Sentou-se novamente, com um ar infeliz, como se eu o tivesse obrigado à força, e no mesmo instante ouviu-se o ruído de um motor a entrar nos meus domínios. Levantámo-nos de repente e, um pouco atormentado, eu próprio, saí para o pátio.
Debaixo dos lilases desfolhados e a pingar, um grande carro aberto subia o caminho. Parou. O rosto de Daisy, ligeiramente de lado sob o chapéu de três bicos cor de alfazema, olhou-me com um sorriso radioso e estático.
- É realmente aqui que você mora, meu mais-que-tudo?
A alegre inflexão da sua voz era como uma tónica turbulenta na chuva. Foi-me preciso seguir-lhe, por instantes, as ondulações, só com o ouvido, para que as palavras tivessem algum sentido. Uma madeixa-húmida de cabelo atravessava-lhe o rosto como uma mancha de tinta azul e a mão reluzia de gotas de chuva, quando lhe peguei para a ajudar a sair do carro.