- Será que você está apaixonado por mim? - segredou-me ao ouvido. - Ou, então, porque é que tinha eu de vir sozinha?
- É o segredo de Castle Rackrent! Diga ao seu motorista que desapareça por uma hora.
- Volte daqui a uma hora, Ferdie. - Depois, num murmúrio grave: - Ele chama-se Ferdie. - A gasolina não lhe irrita o nariz?
- Acho que não - disse, ingenuamente. - Porquê?
Entrámos. Para minha completa surpresa, a sala estava deserta.
- Esta agora teve a sua graça! - exclamei.
- Que é que teve a sua graça?
Quando alguém bateu, discretamente, à porta da frente, ela voltou-se para ver quem era. Fui abrir. Gatsby, lívido como um cadáver, com as mãos afundadas como pesos nos bolsos do casaco, estava em pé numa poça de água, a olhar-me tragicamente nos olhos.
Ainda de mãos nos bolsos, entrou muito hirto, comigo, no hall, virou-se bruscamente como se se equilibrasse em cima de um arame e desapareceu na sala. Não teve mesmo piada nenhuma. Atento ao bater agitado do meu próprio coração, empurrei a porta contra a chuva que aumentava.
Durante meio minuto não se ouviu um único som. Depois, da sala, chegou-me uma espécie de murmúrio abafado e parte de um riso, a que se seguiu a voz de Daisy numa nota clara e artificial:
- Estou mesmo muito contente por voltar a vê-lo. Uma pausa, que durou horrivelmente. Como não estava a fazer nada no hall, fui para a sala.
Gatsby, ainda de mãos nos bolsos, estava encostado ao rebordo da lareira, numa simulação forçada de perfeito à-vontade, mesmo de enfado.
Tinha a cabeça de tal modo inclinada para trás que a apoiava no mostrador de um defunto relógio de lareira e, desta posição, os seus olhos perturbados fitavam Daisy, sentada, em baixo, assustada mas graciosa, na borda de uma rígida cadeira.