O Grande Gatsby - Cap. 5: Capítulo V Pág. 86 / 173

- Que se passa?

- Isto foi um erro crasso! - disse, abanando a cabeça de um lado para o outro. - Um erro crasso, crasso!

- O que você está é embaraçado, mais nada. - Mas por sorte acrescentei: - E a Daisy também.

- Acha que sim? - repetiu, incredulamente.

- Tanto como você,

- Não fale tão alto!

- Você está a comportar-se como um garoto. - desabafei, já impaciente. - E não só isso como também está a ser grosseiro! Deixou a Daisy para ali sentada, completamente só!

Ergueu a mão para me fazer calar, olhou-me com um ar de inesquecível reprovação e, abrindo cautelosamente a porta, voltou para a sala.

Saí pelas traseiras - tal como Gatsby fizera, meia hora antes, ao dar, nervoso, a volta à casa - e corri para uma enorme árvore negra e nodosa, cuja densa e entretecida folhagem servia de abrigo contra a chuva. Voltava a chover torrencialmente e o meu relvado desigual, aparado pelo jardineiro de Gatsby, abundava em pequenos lameiros e em pântanos pré-históricos. Debaixo da árvore não havia mais nada para onde olhar, a não ser aquela casa enorme de Gatsby, e ali fiquei, durante meia hora, a olhar para ela tal como Kant olhava para a torre da igreja. Tinha-a construído um cervejeiro no tempo em que havia a mania do estilo «de época», uma década antes, e contava-se que ele tinha acedido a pagar impostos, durante cinco anos, sobre todas as casas de campo das redondezas, caso os respectivos proprietários lhes cobrissem os telhados de colmo. Talvez a recusa deles lhe tenha tirado o ânimo para levar avante o seu projecto de fundação de uma dinastia, e entrou imediatamente em declínio. Os filhos venderam-lhe a casa ainda com o festão fúnebre à porta. Os americanos, ainda que voluntariosa, quando não mesmo ansiosamente, servis, sempre foram obstinados na aceitação do campesinato.





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