- Já nos conhecíamos - murmurou Gatsby.
O seu olhar fixou-se, momentaneamente, em mim e os seus lábios apertaram-se numa tentativa, malograda, de riso.
Por sorte, o relógio aproveitou esta altura para descair perigosamente sob a pressão da sua cabeça e imediatamente ele se voltou para o agarrar com dedos trémulos e o repor no seu lugar. Depois sentou-se, rigidamente, com o cotovelo no braço do sofá e a mão a apoiar o queixo, e disse:
-Ia-lhe dando cabo do relógio Desculpe!
Agora era a minha cara que adquiria a cor de uma queimada verdadeiramente tropical. Dos mil lugares-comuns que tinha na cabeça, não consegui lembrar-me de um único,
- E um relógio antigo - foi o que, imbecilmente, me escapou.
Penso que, por momentos, todos nós acreditámos que ele se tinha despedaçado no chão.
- Já não nos víamos há muitos anos - disse Daisy, com a voz mais natural que se possa imaginar.
- Faz cinco anos em Novembro próximo.
O automatismo da resposta de Gatsby impediu-nos de continuar, pelo menos durante outro minuto, Já eu os tinha posto de pé, com a sugestão desesperada de que me ajudassem a preparar o chá na cozinha, quando a diabólica finlandesa apareceu com ele numa bandeja.
Entre a bem-vinda confusão de chávenas e bolos estabeleceu-se uma certa decência física. Gatsby recolheu-se numa sombra e, enquanto Daisy e eu conversávamos, olhava conscienciosamente de um para o outro, com um olhar tenso e infeliz. Mas como a calma não era um fim em si própria, pedi desculpa no primeiro instante que me foi possível, e levantei-me.
- Onde vai você? - perguntou Gatsby, logo alarmado.
- Volto já.
- Antes de você sair, preciso de lhe dizer uma coisa.
Seguiu-me freneticamente até à cozinha, fechou a porta e segredou-me: «Oh, meu Deus!», de um modo que me inspirou dó.