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Capítulo 2: Capítulo 2

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(continuou)

— Nesses sítios, minha querida Nastenka, leva-se uma vida completamente diferente, que em nada Se assemelha à que se desenvolve junto de nós, que pode existir num mundo desconhecido, mas não no nosso, na nossa época síria, ultra-séria. Esta vida é uma mistura de algo de puramente fantástico, de encarniçadamente idealista e, simultaneamente — ai de mim, Nastenka —, de grosseiramente prosaico e comum, para já não dizer de insolitamente vulgar.

— Uf! Meu Deus, que preambulo! Que terei ainda de ouvir? — Vai saber, Nastenka (parece-me que nunca me cansarei de lhe chamar Nastenka), vai saber que nesses lugares vivem seres esquisitos: os tais sonhadores. Sabe? O sonhador, para o definir pormenorizadamente, não é um homem, é uma espécie de criatura do género neutro. Aloja-se, na maior parte do tempo, num inacessível refúgio, como se pretendesse até ocultar-se da luz do dia, e, uma vez encolhido na sua toca, metido na sua casota como o caracol, ou pelo menos parece-se muito, neste aspecto, com esse curioso bichinho que é simultaneamente um animal e uma casa e que se chama tartaruga. Na sua opinião, por que razão gostará ele tanto das suas quatro paredes, monotonamente pintadas de verde, sujas, tristes e enegrecidas pelo fumo do tabaco? Por que razão esse ridículo sujeito, quando algum dos seus raros conhecimentos o vem visitar (e ele procede de tal modo que, a pouco e pouco, os seus amigos acabam todos por desaparecer), por que razão esse homem acolhe o visitante com tal embaraço, com um rosto de tal modo perturbado e tão confuso como se acabasse de cometer um crime, ali, entre as suas quatro paredes, como se fosse apanhado a fabricar notas falsas ou a escrever versinhos para enviar a qualquer revista com uma carta anónima, dizendo que o verdadeiro poeta morreu e que um seu amigo considera como dever sagrado publicar a sua obra? Por que razão, diga-me, Nastenka, a conversa se estabelece com tanta dificuldade entre estes dois interlocutores? Por que motivo não se soltam gargalhadas e não se troca qualquer palavra espirituosa com este amigo surgido de improviso, o qual em qualquer outra circunstância tanto gosta das gargalhadas e das palavras espirituosas, dos discursos sobre o belo sexo e sobre outros assuntos agradáveis?

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Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
Página atual: 19

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65