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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 29

«Sabe que gosto agora de lembrar e de visitar, em certas da tas, locais onde um dia fui feliz à minha maneira; gosto de edi ficar o meu presente de harmonia com o irreversível passado e, muitas vezes, vagueio como uma sombra, sem objectivo, sombrio e triste, por sítios afastados e pelas ruas de Sampetersburgo?

«Que recordações! Lembro-me, por exemplo, de que neste local, há justamente um ano, precisamente a esta hora, neste mesmo passeio, vagueei tão solitário e tão sombrio como hoje! E repare que nessa altura também os pensamentos eram tristes; ainda que não fosse mais feliz, sentia, apesar de tudo, que a vida era mais fácil e tranquila, não existindo nela esta ideia negra que agora a mim se apegou; nada desses problemas de consciência, sombrios e severos remorsos, que nem de dia nem de noite me deixam descansado. E uma pessoa interroga-se: mas então onde estão os teus sonhos? E sacode a cabeça, dizendo: como os anos passam depressa!... E novamente nos interrogamos: mas o que fizeste tu dos teus anos? Onde foste enterrar o teu tempo mais precioso? Viveste verdadeiramente? Sim ou não? Repara, dizemos para nós mesmos, repara como o mundo arrefeceu. Passarão ainda mais anos e, após eles, virá a triste solidão, virá com a sua bengala a vacilante velhice e, após eles, o tédio e o desespero. O teu mundo fantástico empalidecerá; os teus sonhos morrerão, fenecerão, cairão como as folhas mortas caem das árvores... Oh, Nastenka, como será triste ficar só, completamente só, e não ter absolutamente nada a lamentar, nada de nada..., pois tudo o que se perdeu, tudo isso junto, não significa nada, é um zero estúpido e perfeito, tudo não terá passado de um sonho!

— Vamos, não me comova mais! — pediu Nastenka, enxugando uma pequena lágrima que lhe rolara dos olhos. — Agora tudo isso acabou! Agora somos dois. Agora, suceda o que suceder, nunca nos separaremos. Escute. Eu sou uma rapariga simples, estudei pouco, se bem que a minha avó me tenha contratado um professor; apesar disso, eu compreendo-o, pois tudo o que acaba de me contar eu própria já o vivi quando a avó me pregou à sua saia. Certamente que não teria sido capaz de o narrar tão bem como o senhor, pois, como já lhe disse, os meus estudos não foram grandes — acrescentou timidamente, pois experimentava sempre um certo respeito em relação ao meu tom patético e ao meu estilo grandiloquente.— Agora conheço-o perfeitamente, conheço-o dos pés à cabeça. E quer saber uma coisa? Vou-lhe contar a minha história e vou-a contar a mim própria, sem nada ocultar, e depois disso, em compensação, o senhor dar-me-á um conselho, pois é um homem inteligente. Promete dar-me esse conselho?

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Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65