Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 2: Capítulo 2

Página 37

«Pensei que, depois disto, ele viria a nossa casa com maior frequência. Mas não: quase deixou de vir. Uma vez por mes, talvez, entrava apenas para nos convidar para irmos ao teatro. Fomos mais duas vezes. Porém, eu não me sentia contente. Vala que, pura e simplesmente, ele tinha piedade de mim, de me ver com a avó naquele estado. Com a continuação, isso foi-me enlouquecendo: já não era senhora de mim, lia sem ler, trabalhava sem trabalhar, às vezes ria-me e dedicava-me a irritar a avó, outras vezes, muito simplesmente, chorava. Finalmente, emagreci e estive quase a cair doente. A época da Ópera terminou e o nosso hóspede deixou completamente de nos visitar; quando nos encontrávamos — sempre na escada, naturalmente —, cumprimentava sem dizer palavra, com um ar tão grave que parecia não querer falar, e já ele estava no patamar e eu ainda permanecia a meio da escada, vermelha como um pimentão, pois sempre que o encontrava o sangue me afluía às faces.

«Estou a chegar ao fim. Há justamente um ano, em Maio, o hóspede chegou à nossa casa e disse à avó que terminara com êxito os seus assuntos aqui e que tinha de voltar, por um ano, para Moscovo. Ao ouvir estas palavras, empalideci e caí numa cadeira, como morta. A avó nada notara e ele, após ter dito que ia deixar o quarto, cumprimentou e saiu.

«Que fazer? Reflecti bastante, desgostei-me bastante e tomei enfim a minha decisão. Ele partiria no dia seguinte, e decidi resolver tudo à noite, quando a avó se fosse deitar. Foi o que aconteceu. Fiz uma trouxa de todos os meus vestidos, de toda a roupa de que necessitava, e com essa trouxa na mão, mais morta do que viva, subi a escada até à mansarda do nosso hóspede. Pareceu-me ter gasto mais de uma hora para percorrer os degraus. Quando abri a porta, ele soltou um grito ao ver-me.

Tomou-me por um fantasma, tão pálida eu estava. Correu a buscar-me um copo de água, pois mal me sustentava de pé. O coração batia-me com tanta força que sentia a cabeça perturbada, a ponto de ter quase perdido a consciência. Quando voltei a mim, comecei por pousar a minha trouxa em cima da cama e sentei-me ao lado, escondi o rosto entre as mãos e chorei como uma Madalena. Ele, segundo creio, compreendeu tudo num abrir e fechar de olhos. Estava em pé diante de mim, pálido, e olhava-me tão tristemente que eu sentia o coração despedaçado.

<< Página Anterior

pág. 37 (Capítulo 2)

Página Seguinte >>

Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
Página atual: 37

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65