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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 6

Num recanto, apoiada ao parapeito da muralha, estava uma mulher. Com os cotovelos apoiados no gradeamento, parecia olhar com muita atenção a água turva do canal. Trazia um bonito chapelinho amarelo e uma encantadora mantilha negra. «E uma rapariga e certamente morena», pensei. Parecia não ouvir os meus passas e nem sequer se moveu quando passei por ela, relendo a respiração e com o coração a bater violentamente. «Estranho!», pensei. «Deve ter, sem dúvida, uma grande preocupação»; e bruscamente detive-me, como que pregado ao solo. Sim, não me enganara: a jovem chorava. Um momento depois, ouvi um novo soluço. Santo Deus! O meu coração comprimiu-se de angústia. Embora habitualmente seja tímido com as mulheres, a verdade é que este caso era excepcional!... Voltei atrás, dei uns passas na sua direcção e teria forçosamente dito: «Menina!», se não tivesse a consciência de que esta exclamação fora pronunciada já mil vezes em todos os romances mundanos. Foi a única coisa que me deteve. Porém, enquanto procurava uma palavra, a jovem recompôs-se e, dominando-se, passeou um olhar em torno de si, baixou a cabeça e deslizou à minha frente ao longo do canal. Imediatamente, caminhei em sua perseguição, mas ela, descobrindo-o, deixou o cais, atravessou a rua e foi para o passeio do outro lado. Não ousei atravessar. O meu coração palpitava como o de um pássaro apanhado numa armadilha. De súbito, uma casualidade veio em meu auxilio.

No passeio para que a rapariga atravessara surgiu subitamente, perto dela, um cavalheiro de fraque, com uma idade muito respeitável, mas com um ar que o não era tanto. Cambaleava, apoiando-se cautelosamente nas muralhas. A rapariga caminhava apressada e timidamente, como sucede geralmente com as raparigas que não querem que se lhes ofereça para as acompanhar à noite até suas casas, e, por certo, o oscilante cavalheiro nunca a teria conseguido apanhar se a minha boa estrela o não tivesse induzido a recorrer a meios de circunstância. De repente, sem dizer palavra, o sujeito encheu-se de coragem e, com todas as suas forças, desatou a correr em perseguição da minha desconhecida. Ela fugia, célere como o vento, mas o senhor, embora cambaleando, ia ganhando terreno, até que a atingiu. Ela soltou um grito e eu. . . dei graças aos Céus pela excelente e nodosa bengala que trazia na mão direita. Num abrir e fechar de olhos, eis-me do outro lado da rua, e, também num abrir e fechar de olhos, o intruso deteve-se, tomou em consideração.

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Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65