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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 5

Eu também me sentia contente como nunca me sentira antes. Dir-se-ia que subitamente fora transportado para Itália, de tal modo o esplendor da natureza me deslumbrada, a mim, citadino meio enfermo, meio asfixiado entre as minhas quatro paredes.

Existe algo muito comovente, difícil de exprimir, na paisagem dos arredores de Sampetersburgo quando, à aproximação da Primavera, manifestando subitamente toda a sua violência, todas as forças que recebeu do Céu, se cobre de viçosa verdura, se adorna com o colorido das flores... Faz-me involuntariamente lembrar uma jovem macilenta que olhássemos umas vezes com piedade, outras com uma paciência complacente e cuja presença quase não notamos, até que, de repente, num instante lhe encontramos uma maravilhosa e inexplicável beleza, ao mesmo tempo que, estupefactos, nervosos, nos interrogamos contrariados: que força terá feito brilhar com um tal fulgor estes olhos pensativos e tristes? Que terá tingido de sangue estas faces magras e pálidas? Que terá acendido a paixão nestes delicados traços? Por que motivo arfa deste modo este peito? Que terá, tão subitamente, povoado de força, de vida e de beleza o rosto desta pobre raparigas iluminando-o com semelhante sorriso e enchendo-o de uma alegria tão radiosa e fulgurante? Olharemos em torno de nós, procuraremos alguém, adivinharemos... Mas, passado este instante, encontraremos talvez no dia seguinte novamente o mesmo olhar pensativo e distraído que tinha antes, o mesmo rosto pálido, a mesma submissão e timidez nos movimentos e até mesmo um arrependimento e os vestígios de um mortificante aborrecimento ou despeito por aquele arrebatamento de um minuto... Lamentaremos então que aquele fulgor? que aquela efémera beleza, tenha tão depressa, tão irrevogavelmente, fenecido — lamentaremos por não termos sequer tido tempo de a amar...

E no entanto a minha noite foi mais proveitosa do que o dia! Eis como as coisas se passaram:

Regressei muito tarde à cidade e já tinham dado as dez horas quando me aproximei da minha casa. O caminho que percorri passava junto do cais do canal, onde, àquela hora, não se encontrava vivalma. Na realidade, moro num bairro bastante afastado. Caminhava cantando, pois quando estou contente gasto de cantarolar, como qualquer homem feliz que não tenha amigos, nem conhecidos, e que nos seus momentos de felicidade não tem com quem compartilhar a sua alegria. Subitamente, aconteceu-me a mais inesperada das aventuras.

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Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65