«Voltaremos a encontrar-nos, o senhor virá a nossa casa, não nos abandonará, será perpetuamente meu amigo, meu irmão... E quando me vir, dar-me-á a sua mão... sim? Dar-ma-á, pois ter-me-á perdoado, não é verdade? Continuará a amar-me como até aqui?
«Sim, ame-me, não me abandone, pois eu amo-o de tal maneira neste instante, porque sou digna do seu amor, porque eu o mereço... meu querido amigo! Casamos na próxima semana Ele continua apaixonado, nunca me esqueceu... Não se zangue por lhe falar dele. Quero que o conheça: será amigo dele, não é verdade? Perdoe-me! Recorde e ame a sua Nastenka»
Li esta carta diversas vezes. As lágrimas toldavam-me os olhos. Por fim, caiu-me das mãos e escondi o rosto.
— Meu rapaz! Eh, meu rapaz! — disse Matriona.
— Que foi, velhote
— Já tirei a teia de aranha do tecto. Agora até já te podes casar, se quiseres, convidar amigos, tudo ir á ficar em ordem...
Fitei Matriona... Era uma mulher ainda cheia de vivacidade, uma velha jovem; mas, não sei porquê, pareceu-me de súbito com o olhar baço, com rugas no rosto, curvada, estragada... Não sei porquê, subitamente, pareceu-me que o quarto envelhecera como Matriona. Paredes e soalho estavam sem cor, tudo ficara turvo e obscuro; pareceu-me que as teias de aranha se tinham multiplicado. Não sei porquê, ao olhar através da janela pareceu-me que, por seu turno, o prédio em frente também escurecera, que o reboco das suas colunas se esboroava e caía, que as cornijas tinham enegrecido e aberto fendas e que as paredes, de um amarelo carregado e gritante, tinham perdido a cor...