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Capítulo 8: AS ORAÇÕES DE SOROR MARIA DA PUREZA

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No convento cada vez se dizia com mais insistência que Soror Maria da Pureza era santa. Tinha êxtases e visões. Mal poisava os pés no chão, não comia, não se deitava. De noite, estendia os braços em cruz, e sorria. O velho capelão curvava-se reverente quando ela passava, quase imaterial, pelos corredores escuros. Tinha o andar baloiçado e sereno de quem caminha num andor em procissão. Resplandecia. Parecia feita de luz. Uma das pequeninas dizia ter visto a velha acácia que já não dava flores deixar cair pétalas no chão aos pés da vinha virgem, uma tarde em que Soror Maria da Pureza lá rezara uma oração.

E no plácido silêncio dos claustros, onde o gorjeio do veiozinho de água continuava a afagar os lírios roxos, no coro onde os vitrais transformavam como alquimistas o Sol em pedras preciosas, na cerca cheia de murmúrios e risos de passarinhos, na igreja onde a Nossa Senhora da capelinha cheia de luz continuava dia e noite a sorrir ao menino que lhe estendia os braços, no banco, sob o dossel da vinha virgem, por toda a parte, enfim, Soror Maria da Pureza, indiferente a tudo, cada vez mais exangue, mais frágil, mais luminosa, continuava a rezar as suas orações, que andavam de boca em boca e que eram mais lindas e mais fervorosas que as de Santa Teresa.

Orações de amor, sacrílegas, blasfemas orações de pecado, a um noivo-morto, rezadas num convento de Toledo, aos pés dos altares, por bocas puras, que estranhas orações de pecado!...

De pecado?... Não... que Soror Clara das Cinco Chagas, a severa e ríspida superiora, ao ouvi-las rezar um dia por uma das pequeninas na capela do Sagrado Coração, dissera suavemente, erguendo os olhos ao céu:

«Sagrado Coração do Senhor, ouvi-a!»

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Capa do livro As Máscaras do Destino
Páginas: 80
Página atual: 68

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Ao meu irmão… 1
O AVIADOR 3
A MORTA 9
OS MORTOS NÃO VOLTAM 16
O RESTO É PERFUME 25
A PAIXÃO DE MANUEL GARCIA 33
O INVENTOR 47
AS ORAÇÕES DE SOROR MARIA DA PUREZA 59
O SOBRENATURAL 69