De modo contrário despe-se imediatamente tal acontecimento contemplativo de todo caráter mítico, pela pintura sonora do ditirambo moderno. Agora converteu-se a música a uma pobre imagem do fenômeno, sendo por isto muito mais pobre que o fenômeno em si. Por esta mesma pobreza ela rebaixa ainda, para nossos sentimentos, o próprio fenômeno, de maneira a agora escutar-se uma música que imita uma batalha em ruídos de marcha, sons de sinais etc., sendo a nossa fantasia retida precisamente por estas superficialidades. A pintura de sons é, portanto, sob todos os pontos de vista, o inverso da força criadora de mitos da música verdadeira; por ela a imagem torna-se ainda mais pobre do que é primitivamente, enquanto que pela música dionisíaca se enriquece e alarga a imagem em figura do universo. Foi uma vitória grandiosa do espírito não-dionisíaco quando ele, no desenvolvimento do novo ditirambo, desviou a música de si mesmo, rebaixando-a a escrava do fenômeno. Eurípides, que, num sentido mais elevado, deve ser considerado como uma natureza não musical , é, por esta mesma razão, um adepto apaixonado da nova música ditirâmbica, usando com generosidade de larápio todas as partes de efeito e manias.
Em sentido diverso vemos a força deste espírito não-dionisíaco, e dirigido contra o mito, em ação, quando dirigirmos os nossos olhares ao predomínio da representação de caráter e ao “raffinement” psicológico na tragédia escrita a partir da época da Sófocles. O caráter não mais deve ser alargado a um tipo eterno, mas deverá, ao contrário, agir individualmente por traços artificiais e sombreados, mediante a mais fina determinação de todas as linhas, de maneira a sentir o espectador não o mito e sim a potente verdade da Natureza e a força imitativa do artista.