Renan possui toda sua inventividade, exatamente como um jesuíta e um confessor, na sedução; em sua espiritualidade não falta o largo sorriso eclesiástico. - Como todo sacerdote, ele só se torna perigoso quando ama. Ninguém se equipara a ele no modo de louvar, um modo de louvar que coloca a vida em risco... Este espírito de Renan, um espírito que debilita os nervos, é mais uma fatalidade para a doente, para a doente da vontade, para a pobre França. –
3.
Sainte-Beuve. - Nada do homem; pleno de uma raiva contra todo e qualquer espírito varonil. Errando de um lado para outro, fino, curioso, entediado, em posição de escuta. No fundo uma personalidade feminina, com vinganças de mulher e uma sensualidade de mulher. Enquanto psicólogo, ele é um gênio da maledicência, inesgotavelmente rico em meios para tanto; ninguém entende melhor o que significa misturar veneno com um elogio. Plebeu nos instintos inferiores e aparentado com o ressentimento de Rousseau: consequentemente romântico - pois em todo romantismo grunhe e guincha o instinto de vingança de Rousseau. Revolucionário, mas ainda razoavelmente contido pelo medo. Sem liberdade diante de tudo, que tem força (a opinião pública, a academia, a corte, mesmo Port Royal). Irritado contra tudo o que há de grandioso no homem e nas coisas, contra tudo o que crê em si. Poeta e meio-mulher o suficiente, para ainda sentir a grandeza enquanto poder; constantemente retorcido como aquele famoso verme, porque se sente constantemente pisado. Enquanto crítico sem critério, sem ponto de apoio e espinha dorsal, com a língua do libertino cosmopolita frente a todas as coisas em geral, mas sem a própria coragem para a assunção da libertinagem. Enquanto historiador sem filosofia, sem o poder do olhar filosófico.