Homenagem à Catalunha - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 133 / 193

Não havia grandes acontecimentos no front. A batalha ao redor da estrada para Jaca terminara e não recomeçou senão em meados de junho. Na nossa posição, o problema maior eram os franco-atiradores (snipers). As trincheiras fascistas estavam a mais de cento e cinquenta metros de distância, mas encontravam-se em terreno mais alto e em dois lados nossos, com nossa linha formando um ângulo reto enfiado na deles. A ponta dessa saliência era lugar perigoso, e sempre houvera certo número de baixas ali, causadas por atiradores inimigos. De vez em quando os fascistas atiravam-nos uma granada de fuzil, ou arma semelhante. Ela fazia um estrondo medonho - e amedrontador, pois não dava para ouvi-la ainda a caminho e a tempo de nos protegermos - mas não constituía grande perigo, pois o buraco que abria no chão não era maior do que uma banheira. As noites mostravam-se agradavelmente mornas, os dias muito quentes, os mosquitos começavam a tornar-se uma amolação e a despeito das roupas limpas que trouxemos de Barcelona ficamos quase imediatamente tomados pelos piolhos. Lá nos pomares abandonados, na terra de ninguém, as cerejas embranqueciam nas árvores. Houve chuva torrencial por dois dias, os abrigos ficaram inundados, o parapeito abaixou um palmo. Depois disso vieram mais dias de cavar a argila pegajosa com aquelas desajeitadas pás espanholas, que não têm cabo e se dobram como colheres de estanho.

Prometeram-nos um morteiro de trincheira para a companhia, e eu o aguardava com grande animação. À noite fazíamos as patrulhas de costume - mais perigosas do que antes, pois as trincheiras fascistas achavam-se mais bem guarnecidas e eles estavam mais alerta, tendo espalhado latas vazias pela parte externa do arame farpado, costumando abrir fogo com as metralhadoras ao ouvirem alguma delas "cantar". Durante o dia abríamos fogo lá da terra de ninguém. Rastejando uns cem metros podíamos chegar a uma vala, oculta pela grama alta, que ficava acima de uma lacuna no parapeito fascista. Preparamos um apoio para fuzil na vala, e quem esperasse tempo suficiente veria uma figura envergando uniforme cáqui passar apressadamente por aquele espaço.

Fiz diversos disparos em tais condições, e não sei se acertei alguém, mas é muito improvável, pois minha pontaria é ruim com fuzil. A coisa, no entanto, mostrava-se bastante divertida, os fascistas não sabiam de onde vinham os tiros, e eu achava que mais cedo ou mais tarde apanharia um deles. O diabo é que aconteceu o contrário - um deles é que me apanhou. Eu estivera uns dez dias na linha de frente quando isso aconteceu.





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