Eu me achava extremamente fraco, a voz parecia ter acabado para sempre e os médicos afirmavam que seriam precisos meses seguidos até eu voltar a condições de luta. Precisava começar a ganhar algum dinheiro, mais cedo ou mais tarde, e não parecia adiantar grande coisa minha permanência na Espanha, consumindo alimentos que faziam falta a outras pessoas. Mas os motivos para desejar o regresso eram egoístas, em sua maior parte. Eu me encontrava tomado pelo desejo esmagador de largar tudo aquilo, a atmosfera horrível de suspeita e ódio político, as ruas cheias de homens armados, ataques aéreos, trincheiras, metralhadoras, bondes elétricos a fazer um barulhão pela cidade, chá sem leite, cozinha onde usavam azeite e a escassez de cigarros - tudo aquilo, enfim, que eu aprendera a ligar à Espanha.
Os médicos no Hospital Geral declararam-me fisicamente incapacitado, mas era preciso ver uma junta médica num dos hospitais próximos ao front para conseguir a baixa, e depois tocar para Sietamo a fim de que carimbassem os documentos na sede da milícia do P.O.U.M. Kopp acabara de regressar do front, cheio de júbilo. Estava saindo de uma ação militar e dizia que Huesca seria tomada, afinal de contas. O Governo enviara tropas da frente de Madrid e estava concentrando trinta mil homens, com grande número de aeroplanos. Os italianos que eu vira a caminho da frente, em Tarragona, atacaram a estrada para Jaca, mas sofreram grandes baixas e perderam dois tanques de guerra. Ainda assim, a cidade deveria cair, afirmava Kopp. (Pois isso não ocorreu. O ataque foi uma trapalhada terrível e resultou unicamente numa onda de mentiras nos jornais.) Enquanto isso, Kopp precisava ir a Valência para entrevistar-se com alguém no Ministério da Guerra. Levava uma carta do General Pozas, que comandava o Exército do Oriente - aquela carta costumeira, descrevendo Kopp como "pessoa de minha inteira confiança" e recomendando-o para um posto especial na seção de engenharia (Kopp fora engenheiro na vida civil). Ele deixou a cidade, partindo para Valência, no mesmo dia em que toquei para Sietamo - 15 de junho.
Levei cinco dias para regressar a Barcelona. Seguimos em caminhão lotado de homens, e por volta de meia-noite chegávamos a Sietamo, e na sede local do P.O.U.M. tivemos de formar uma fileira, sendo-nos dados fuzis e munição antes mesmo de anotarem nossos nomes.