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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 156
Com certeza haveria muito embaraço, confusão e mañana, mas por sorte estávamos na Espanha, não na Alemanha. A polícia secreta espanhola tinha algum espírito da Gestapo, mas não a maior parte de sua competência.

E assim nos separamos. Minha mulher voltou ao hotel e eu saí pela escuridão, procurando onde dormir. Lembro-me de estar mal disposto e entediado. Queria tanto dormir numa cama! Não tinha para onde ir, casa alguma onde me refugiar. O P.O.U.M. não possuía praticamente qualquer organização subterrânea. Seus dirigentes sempre perceberam que o partido poderia ser extinto, mas não contavam com uma caça por atacado. Tão pouco esperaram, na verdade, que davam prosseguimento às modificações nos edifícios do P.O.U.M. (e entre outras coisas construíam um cinema no edifício da Direção do partido, que fora antes um banco) e o fizeram até o dia em que o mesmo foi extinto. Por consequência, não existiam os pontos de encontro e esconderijos que todo partido revolucionário deve possuir. Só Deus sabe quanta gente - que tivera a residência vasculhada pela polícia - estava dormindo nas ruas, aquela noite. Eu tivera cinco dias de viagens cansativas, dormira em lugares os mais incômodos, meu braço doía miseravelmente, e agora aqueles imbecis estavam em meu encalço e era preciso dormir no chão mais uma vez. Meus pensamentos não passaram desse ponto, e não tive qualquer reflexão política correta, pois não as tenho quando as coisas estão acontecendo. Parece ser sempre assim, quando me misturo com guerra ou política - não tenho consciência de coisa alguma, a não ser do desconforto físico e de um desejo profundo de que acabe esse absurdo infernal. Depois é que posso perceber o significado dos acontecimentos, mas enquanto eles se desenrolam apenas desejo estar fora deles - o que talvez constitua um traço dos mais ignóbeis.

Andei muito e fui parar nas proximidades do Hospital Geral. Queria encontrar um lugar onde pudesse deitar-me sem que algum policial intrometido me visse e exigisse documentos. Procurei um abrigo antiaéreo, mas era de escavação recente e a umidade gotejava ali dentro. Depois disso fui às ruínas de uma igreja que fora assaltada e incendiada na revolução. Não passava de uma casca, com suas quatro paredes sem coberta a cercar montões de destroços. Naquela semi-escuridão, fui tateando e descobri uma espécie de oco onde podia deitar-me. Blocos de argamassa partida não são coisa das melhores para quem procura uma cama, mas felizmente a noite foi quente e consegui dormir várias horas.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 156

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173