Homenagem à Catalunha - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 155 / 193

Tudo aquilo parecia demasiadamente destituído de sentido. Fora a mesma recusa em levar aquele assalto imbecil a sério que resultara na prisão de Kopp. Eu continuava indagando o motivo pelo qual alguém poderia prender-me. O que fizera eu? Nem sequer era membro partidário do P.O.U.M. Decerto estivera com armas na luta de maio, mas isso acontecera a uns quarenta ou cinquenta mil homens. Além disso, estava por demais necessitando de uma boa noite de sono. Queria arriscar-me e voltar ao hotel, mas minha esposa não o admitiu. Cheia de paciência, explicou-me a situação. Não importava o que eu fizera ou deixara de fazer. Não se tratava de uma batida para apanhar criminosos, apenas de um reinado de terror. Eu não era culpado de qualquer ato definido, mas de "trotskismo". O fato de que servira na milícia do P.O.U.M. era mais do que suficiente para levar-me à prisão. Não adiantava ater-me à noção inglesa de que se está seguro enquanto se respeitar a lei. A lei, para todos os fins práticos, era o que a polícia resolvia fazer. Só me restava esconder e ocultar o fato de que tivera qualquer ligação com o P.O.U.M. Examinamos todos os papéis e documentos em meus bolsos, e ela obrigou-me a rasgar o cartão de miliciano, que apresentava a sigla P.O.U.M. em letras grandes, bem como uma fotografia de milicianos com bandeira daquele partido ao fundo, pois coisas assim é que causavam a prisão das pessoas naqueles dias. Eu precisava ficar com meus documentos de baixa, porém, e até eles constituíam um perigo, pois traziam o carimbo da Vigésima Nona Divisão, e certamente a polícia saberia que essa unidade era o P.O.U.M. Sem os documentos, entretanto, poderiam prender-me como desertor.

Era preciso pensar, agora, em sair da Espanha. De nada servia ficar ali com a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, seríamos presos. A bem da verdade, nós dois teríamos gostado imensamente de ficar, só para ver o que ia acontecer. Mas eu previa que as prisões espanholas eram lugares infestados de piolhos (e na verdade, mostraram-se piores do que eu calculara), que uma vez preso não saberia quando viria a soltura, e minha saúde estava em péssimo estado, para não falar na dor no braço. Marcamos encontro para o dia seguinte, no consulado britânico, local para onde também Cottman e McNair se dirigiriam. Talvez fossem precisos uns dois dias para regularizar os passaportes. Antes de deixar a Espanha tínhamos de carimbar os passaportes em três lugares diferentes - a Chefia de Policia, o consulado francês e junto às autoridades imigratórias da Catalunha. A Chefia de Polícia era o perigo, naturalmente. Mas talvez o Cônsul inglês arrumasse as coisas sem deixar transparecer que tivéssemos qualquer ligação com o P.O.U.M. Era óbvio que devia haver uma lista de suspeitos "trotskistas" estrangeiros, e provavelmente nossos nomes estavam nela, mas com alguma sorte poderíamos chegar à fronteira antes dessa relação.





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