Felizmente lembramo-nos de trazer um pacote de comida, bem como cigarros. Em seguida Kopp começou a falar dos papéis que lhe tomaram ao ser preso. Entre os documentos apreendidos estava sua carta do Ministério da Guerra, endereçada ao coronel-comandante das operações de engenharia no Exército do Oriente. A policia se apossara do documento e não quisera devolvê-lo. Diziam que estava no gabinete do Chefe de Policia, e a situação de Kopp poderia melhorar muito se fosse recuperada.
Percebi imediatamente a importância disso. Uma carta oficial daquele tipo, trazendo recomendação do Ministério da Guerra e do General Pozas, tornaria bem clara a idoneidade de Kopp. Mas a dificuldade estava em provar a existência do documento, e se fosse aberta no gabinete do Chefe de Polícia era certo que algum dedo-duro a destruiria.
Apenas uma pessoa poderia obtê-la de volta: o oficial a quem estava endereçada. Kopp já pensara nisso, e escrevera uma carta que queria me entregar para que a tirasse dali e pusesse no correio. Entregá-la pessoalmente a seu destinatário, no entanto, seria muito mais rápido e certo. Deixei a mulher em companhia de Kopp, tratei de sair, e depois de muita procura achei um táxi. Sabia que o tempo era tudo, e os relógios já marcavam cinco e meia, o coronel provavelmente deixaria seu gabinete às seis horas, e só Deus sabia onde a carta poderia estar no dia seguinte; destruída, talvez, ou perdida naquele monte de documentos que se formava à prisão de cada novo suspeito. O gabinete do coronel ficava no Departamento de Guerra, perto do cais. Quando eu subia apressadamente as escadas, o Guarda de Assalto em sentinela na porta barrou-me a entrada com sua longa baioneta e exigiu "documentos". Sacudi meus papéis de baixa diante de seu rosto: era evidente que o sujeito não sabia ler, e deixou-me passar, impressionado pelo vago mistério dos "documentos". Lá dentro, encontrei uma complicação de inúmeros gabinetes em cada pavimento, tudo em volta de um pátio central, e como aquilo era Espanha, ninguém fazia a menor ideia de onde estava o gabinete que eu procurava. Continuei a repetir: "El coronel -, jefe de ingenieros, Ejército de Este!" Riam e sacudiam os ombros com graça. Todos que tinham um palpite mandavam-me em direção diferente: subi esta escada, desci aquela, passando por corredores intermináveis que davam em becos sem saída. E o tempo se esgotava.