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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 163
Estava tomado por sensação estranhíssima, de que me encontrava num pesadelo - subir e descer escadas às pressas, aquela gente misteriosa que ia e vinha, os relances pelas portas abertas que davam para gabinetes caóticos, com papéis espalhados por toda a parte e máquinas de escrever funcionando, e o tempo a escoar, tendo talvez uma vida na balança.

Cheguei a tempo, no entanto, e para minha ligeira surpresa concederam-me uma entrevista. Não estive com o Coronel - mas com seu ajudante-de-ordens, ou secretário, um camarada baixote, envergando elegante uniforme de oficial, de olhos grandes e vesgos, que veio estar comigo na ante-sala. Comecei a desenrolar minha história. Viera em nome de meu oficial superior, Major Jorge Kopp, que se encontrava em missão urgente no front e fora preso por engano. A carta para o Coronel era de natureza confidencial e devia ser recuperada sem demora. Eu servira com Kopp por meses seguidos, ele era um oficial do mais elevado caráter, obviamente sua prisão fora fruto de engano, a polícia o confundira com outrem, etc. etc. etc. Continuei a falar sobre a urgência da missão de Kopp no front, pois era esse o ponto mais forte a ressaltar. Minha apresentação do assunto, no entanto, deve ter-se parecido a uma história esquisita, narrada em meu espanhol infame, que apelava para o francês nos momentos de crise. O pior é que minha voz sumiu quase imediatamente, e apenas mediante violento esforço é que eu consegui emitir uma espécie de grasnada. Causava-me pavor a ideia de que ela faltasse por completo e o oficialzinho se cansasse de tentar ouvir o que eu tinha a dizer. Muitas vezes, depois disso, fiquei imaginando o que ele achou estar acontecendo com minha voz - se julgou que eu me encontrava bêbado, ou apenas sofrendo os rigores de uma consciência culposa.

Ainda assim, ouviu-me com paciência, anuiu muitas vezes e apresentou reservada concordância para o que eu afirmava. Sim, parecia ter ocorrido um engano. Era claro que a questão devia ser examinada. "Mañana..." Eu protestei. Mañana, não senhor! O caso era urgente, e Kopp já devia estar na linha de frente. Mais uma vez ele pareceu concordar. E fez, então, a pergunta que eu receava:

- Esse Major... Em que força estava servindo?

Eu tinha de pronunciar a palavra fatídica:

- Na milícia do P.O.U.M.

- P.O.U.M.!

Eu gostaria de poder dar ao leitor uma ideia do alarme que o oficial demonstrou na voz. É preciso lembrar como o P.O.U.M. estava sendo visto naquela época. Estávamos então no auge do medo aos espiões, e provavelmente todos os bons republicanos acreditaram, por um ou dois dias, que o P.O.U.M. não passava de imensa organização de espionagem a soldo dos alemães.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 163

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173