Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: Capítulo 13

Página 170

Não sei qual e o primeiro ato apropriado para quem vem de um pais em guerra e chega a outro em paz. A primeira coisa que fiz foi correr para um quiosque-tabacaria e comprar a quantidade de charutos e cigarros que podia acomodar nos bolsos. Depois disso fomos todos ao bufete, e tomamos uma xícara de chá, a primeira com leite fresco que eu ingeria em muitos meses. Passaram-se alguns dias para eu me habituar à ideia de que podia comprar cigarros sempre que o desejasse fazer. Estava sempre receando o fechamento das portas das tabacarias, e o aparecimento do sinal proibitivo: No hay tabaco.

McNair e Cottman iam prosseguir viagem ate Paris. Minha esposa e eu desembarcamos em Banyuls, a primeira estação na linha, achando que seria bom descansarmos um pouco. Não fomos muito bem recebidos em Banyuls, quando souberam que vínhamos de Barcelona, e muitas vezes vi-me envolvido na mesma conversa:

- Então vocês vem da Espanha? Em que lado estavam? Com o Governo? Oh! - e surgia acentuada frieza.

Aquela cidadezinha parecia compactamente favorável a Franco, com certeza devido aos diversos refugiados espanhóis fascistas que chegavam ali de vez em quando. O garçom no café que eu frequentava era um espanhol a favor de Franco, e costumava brindar-me com olhares de desprezo enquanto servia o aperitivo. Já em Perpignan as coisas eram diferentes, pois o lugar estava repleto de partidários do Governo espanhol, e todas as fações se achavam representadas ali, em cabala uma contra as outras, de modo quase idêntico ao que ocorria em Barcelona. Havia certo café no qual a palavra "POUM" granjeava imediatamente a amizade dos franceses e o sorriso do garçom.

Acho que ficamos três dias em Banyuls, e para mim foi uma ocasião de estranha inquietação. Naquela pequena cidade de pescadores, distante das bombas, metralhadoras, filas de gêneros, propaganda e intriga, devíamos sentir-nos profundamente aliviados e gratos. Nada disso ocorreu. As coisas que víramos na Espanha não ficavam para trás e entravam na proporção justa, agora que estávamos distante delas; ao invés disso, voltavam a nossos espíritos com vigor e mostravam-se muito mais vividas do que antes. Pensávamos, conversávamos e sonhávamos constantemente sobre a Espanha, Meses antes dizíamos a nós mesmos que "quando sairmos da Espanha" iremos para algum lugar ao lado do Mediterrâneo e lá ficaremos algum tempo, e talvez pesquemos um pouco, mas agora que estávamos ali, tudo aquilo não passava de tédio e desapontamento. O tempo esfriara, um vento persistente vinha do mar, a água mostrava-se descolorida e encapelada, e ao redor do porto uma camada de cinzas, rolhas e tripas de peixe batia nas pedras.

<< Página Anterior

pág. 170 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 170

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173