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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 175
Pois bem, os mesmos que em 1933 soltavam risadinhas piedosas para quem dissesse que, em certas circunstâncias, lutaria pelo pais, estavam em 1937 a denunciar como trotski-fascista quem afirmasse haver algum exagero nas reportagens do New Masses, falando de homens ainda feridos que bradavam por regressarem à luta. E os elementos instruídos da esquerda faziam sua reviravolta, passando de "A guerra é inferno" para "A guerra é gloriosa", não só faltos de qualquer sentimento de coerência, mas quase sem passarem por uma etapa intermediária nessa transformação. Mais tarde a maioria iria fazer outras transições igualmente violentas. Deve ter havido bom número de pessoas, uma espécie de núcleo dessa gente instruída, que aprovava a declaração de "Rei e Pátria" em 1935, gritava por uma "linha firme contra a Alemanha" em 1937, apoiava uma Convenção Popular em 1940 e está agora exigindo uma Segunda Frente.

No que diga respeito ao povo, as viradas extraordinárias de opinião a que estamos assistindo em nossos dias, as emoções que podem ser postas a correr, ou fechadas, como uma torneira, constituem o resultado da hipnose praticada por jornais e rádio. Nesses círculos instruídos eu diria que elas resultam mais do dinheiro e da simples segurança física. Em dado momento elas podem ser "a favor da guerra", ou "contra a guerra", mas em qualquer dos casos não possuem um quadro realista da guerra, em seus espíritos. Quando se entusiasmaram pela guerra civil espanhola sabiam, naturalmente, que havia gente morrendo e que morrer é desagradável, mas achavam que para um soldado no exercito republicano espanhol a experiência da guerra, de certo modo, não era degradante. Havia ocasiões, e de supor, em que as latrinas fediam menos, a disciplina mostrava-se menos irritante. Basta olhar o New Statesman para ver que elas acreditavam nisso, pois as baboseiras de teor idêntico estão agora mesmo sendo redigidas a respeito do Exercito Vermelho. Tornamo-nos civilizados demais para compreender o que e óbvio, pois a verdade não pode ser mais simples. Para sobreviver, muitas vezes e preciso lutar, e para lutar temos de emporcalhar-nos antes. A guerra é um mal, e com frequência constitui o mal menor. Os que tomam a espada morrem por ela, e os que não o fazem morrem de doenças fedorentas. O fato de que tal trivialidade mereça registro demonstra o que os anos de capitalismo rentier nos fizeram.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 175

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173