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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 23
Mas por muito tempo as únicas transformações que tiveram lugar ocorreram apenas no papel, e os soldados do novo Exército Popular não chegaram à frente de Aragón senão em junho, e até então o sistema de milícias continuou inalterado. O ponto essencial do sistema era a igualdade social entre oficiais e soldados. Todos, de general a soldado raso, recebiam o mesmo soldo, comiam a mesma comida, usavam as mesmas roupas e misturavam-se em pé de absoluta igualdade. Quem quisesse dar um tapa nas costas do general comandante da divisão e pedir-lhe um cigarro podia fazê-lo, e ninguém achava isso fora do comum. Em teoria, pelo menos, cada milícia era uma democracia e não uma hierarquia. Entendia-se que as ordens eram para ser obedecidas, mas entendia-se também que quando se dava uma ordem, dava-se como um camarada a outro, e não como superior ao inferior. Havia oficiais e graduados, mas não a hierarquia militar no sentido comum, nem títulos, distintivos, bater de calcanhares e continências. Procuraram criar, dentro das milícias, um tipo de modelo operante e temporário da sociedade sem classes. Está claro que não existia uma igualdade perfeita, mas uma aproximação a isso, a maior aproximação que eu já vira até então, ou pensara ser possível em tempo de guerra.

Estou pronto a reconhecer, entretanto, que à primeira vista o estado de coisas na linha de frente causou-me horror. Com todos os demônios, como seria possível ganhar a guerra com um exército daquele tipo? Era o que todos indagavam na época, e embora fosse verdade era também pouco razoável dizê-lo, pois nas circunstâncias de então as milícias não poderiam ter sido muito melhores do que eram. Um moderno exército mecanizado não brota do chão, e se o Governo houvesse aguardado até dispor de tropas treinadas, jamais seria oferecida qualquer resistência a Franco. Mais tarde tornava-se moda denegrir as milícias e fazer de conta, portanto, que as falhas devidas à falta de treinamento e armas eram o resultado do sistema igualitário. Na verdade, uma nova conscrição de milicianos não passava de uma malta indisciplinada, não porque os oficiais chamassem aos soldados "carriarada", mas porque soldados bisonhos são sempre uma malta de indisciplinados. Na prática, o tipo "revolucionário" democrático de disciplina merece mais fé do que seria de esperar-se. Num exército de trabalhadores a disciplina é, teoricamente, voluntária. Ela se baseia na fidelidade à classe, enquanto que a disciplina de um exército burguês de conscritos baseia-se, em instância suprema, no medo. (O Exército Popular que substituiu as milícias situava-se em algum ponto intermediário entre os dois tipos.)

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 23

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173