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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 33

Também ali nada acontecia em toda a linha de frente. Tínhamos apenas o estampido irregular dos disparos e, muito raramente, o estrondo de um morteiro fascista que mandava todos correndo para a trincheira de cima para ver em que morro os petardos estavam explodindo. O inimigo achava-se um tanto mais próximo de nós naquela parte, a uns 300 ou 400 metros. Sua posição mais adiantada ficava exatamente em frente à nossa, com um ninho de metralhadora cujas seteiras constituíam uma tentação constante a que desperdiçássemos as balas. Raramente os fascistas se davam ao trabalho de disparar fuzis, mas mandavam de lá rajadas bem precisas sobre qualquer um que se expusesse. Ainda assim, passaram-se dez dias ou mais ate que tivéssemos nossa primeira baixa. Os soldados inimigos à nossa frente eram espanhóis. mas pelas informações prestadas por alguns desertores havia alguns graduados alemães em seu meio. Em alguma época anterior havia mouros ali - pobres coitados, como devem ter sofrido com o frio! - pois lá na terra de ninguém encontrava-se um mouro morto, que constituía uma das coisas a serem vistas na localidade - A dois ou três quilômetros para a esquerda, a linha deixava de ser continua e existia uma faixa de campo, mais baixa e densamente coberta de vegetação, que não pertencia aos fascistas nem a nós. Tanto nós quanto eles costumávamos fazer patrulhas por lá, durante o dia. Não deixava de ter sua graça. à escoteira, embora eu jamais visse uma patrulha fascista a distância menor do que diversas centenas de metros. Mediante muito rastejamento podia-se passar em parte pelas linhas fascistas e até mesmo ver a casa de fazenda onde estava içada a bandeira monarquista, e que servia de quartel-general local dos inimigos. De vez em quando sapecávamos-lhe uma saraivada de fuzis e tratávamos de procurar abrigo antes que as metralhadoras nos localizassem. Espero que tenhamos arrebentado algumas janelas, mas o edifício ficava a uns oitocentos metros de distância, e com nossas armas não podíamos ter certeza sequer de acertar uma casa tão longe.

Na maior parte os dias eram claros e frios, às vezes ensolarados por volta das doze horas, mas sempre frios. Aqui e ali, no terreno das encostas, achávamos as pontas verdes de açafrão ou íris a se estender. Era evidente a aproximação da primavera, mas em marcha bem lenta. As noites mostravam-se mais frias do que nunca, e ao sair da guarda, de madrugada, costumávamos juntar o que restara do fogo na cozinha a ficar de pé nas brasas quentes. Isso não podia ser pior para as botinas, mas era ótimo para os pés.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 33

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173