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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 37
O fogo de umas cinco metralhadoras caía sobre nós, e houve uma série de estrondos fortes causados pelo arremesso de bombas fascistas por sobre seu próprio parapeito, em manobra das mais idiotas. A treva da noite parecia impenetrável e lá em baixo no vale, à nossa esquerda, pude ver o brilho esverdeado de fuzis onde um pequeno número de fascistas, provavelmente em patrulha, metia-se no brinquedo. As balas voavam em torno de nós no escuro, com seus ruídos característicos. Algumas granadas passaram pelo alto assoviando, mas não caíram perto de nós e (como era comum nessa guerra) a maioria deixou de explodir. Tive um instante de aperto quando outra metralhadora abriu fogo do alto do morro atrás da gente - na verdade fora arma trazida ali para nos dar apoio, mas no momento pareceu estarmos cercados. Logo em seguida a nossa própria metralhadora engasgava, como sempre acontecia por utilizar aqueles cartuchos do diabo, e a vareta de desentupi-la foi perdida na escuridão impenetrável. Parecia que nada mais nos restava, senão ficar quietos e servir de alvos. Os metralhadores espanhóis, em sinal de desdém, não procuraram abrigo e, na verdade, expuseram-se deliberadamente, de modo que tive de fazer o mesmo. Por insignificante que fosse, todo aquele acontecimento mostrou-se interessantíssimo. Era a primeira em que eu estivera, a rigor, sob fogo inimigo e, para minha humilhação, verifiquei estar apavorado. Sempre se sente o mesmo, pelo que observei, quando sob fogo pesado. O medo não é tanto a ser atingido quanto se deve a não sabermos onde vamos sê-lo. Fica-se ali imaginando todo o tempo, pensando em que ponto exato a bala vai nos pegar, e isso confere a todas as partes do corpo uma sensibilidade das mais desagradáveis.

Depois de uma ou duas horas os disparos diminuíram e cessaram, e por todo esse tempo tivemos uma única baixa. Os fascistas avançaram com duas metralhadoras até à terra de ninguém, mas guardando uma boa distância e sem fazerem qualquer tentativa no sentido de chegar ao nosso parapeito. Na verdade não estavam atacando, e apenas gastavam cartuchos e faziam uma barulheira dos diabos a fim de comemorar a tomada de Málaga. A importância principal do caso foi que isso ensinou-me a ler as noticias da guerra nos jornais com espírito mais precavido e incrédulo, pois um Ou dois dias mais tarde os jornais e o rádio divulgavam relatórios de um ataque tremendo que fora desferido com cavalaria e tanques (como se pudessem escalar uma encosta perpendicular!) e que os heroicos ingleses repeliram

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 37

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173