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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 40
Em nosso meio circulavam histórias românticas a respeito de sabotagem feita nas fábricas fascistas e as granadas que não explodiam, nas quais podia-se encontrar, ao invés da carga explosiva, um pedaço de papel dizendo "Frente Vermelha", mas nunca vi uma delas. O fato é que as granadas já tinham muita idade, e alguém recolheu uma espoleta de latão, certa feita, onde se encontrava registrado o ano de fabricação - 1917. Os canhões fascistas eram do mesmo modelo e calibre que os nossos, e as granadas que não explodiam serviam para ser recondicionadas e depois disparadas de volta contra o inimigo. Dizia-se que havia uma velha granada que tinha até apelido e que viajava diariamente de um para o outro lado, sem jamais explodir.

A noite costumávamos mandar patrulhas pequenas à terra de ninguém, e deitados ali em valas próximas das linhas fascistas os homens ouviam os sons vindos de lá (toques de cometa, buzinas de veículos, e assim por diante) e que indicassem atividade em Huesca. Havia um vaivém constante de tropas fascistas, e os números podiam até certo ponto ser medidos com base nas informações prestadas por esses elementos de escuta. Sempre tínhamos ordens especiais para dar parte do toque de sinos da igreja, pois parecia que os fascistas iam à missa antes de entrar em ação. Lá no meio dos campos e pomares encontrávamos cabanas abandonadas, com paredes de barro, que se podia explorar com um fósforo aceso depois de cobrir as janelas. As vezes encontrávamos coisas de valor, como uma machadinha ou uma garrafa de água dos fascistas (melhor do que a nossa e muito disputada). Podíamos explorar também de dia, mas nesse caso quase todo o caminho tinha de ser feito rastejando. Era uma coisa estranha estar rastejando naqueles terrenos abandonados e férteis, onde tudo fora largado exatamente em ponto de colheita. Os cultivos do ano anterior nem sequer foram tocados. Os vinhedos sem poda estendiam-se pelo chão, as espigas de milho estavam duras como pedra, as beterrabas hipertrofiadas e transformadas em batatões de todo o tamanho. Como os lavradores devem ter amaldiçoado ambos os exércitos! Havia ocasiões em que turmas saíam para colher batatas na terra de ninguém. A uns 250 metros à nossa direita, onde as linhas estavam bem próximas, encontrava-se uma faixa plantada com batatas e frequentada tanto pelos fascistas quanto por nós. Íamos lá de dia, e eles somente à noite, pois o lugar ficava ao alcance de nossas metralhadoras.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 40

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173