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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 4
Nas ruas havia cartazes coloridos nos quais eram feitos apelos às prostitutas para que parassem com o exercício de seu oficio, e para qualquer pessoa vinda da civilização endurecida e escarninha das raças de fala inglesa existia alguma coisa bastante patética no caráter literal com que aqueles espanhóis idealistas acolhiam as frases corriqueiras de revolução. Naquela época, as baladas e canções revolucionárias do tipo mais ingênuo, todas falando na fraternidade proletária e na ruindade de Mussolini, eram vendidas nas ruas por alguns cêntimos, e muitas vezes vi um miliciano analfabeto comprar uma, coletar com grande esforço as palavras e em seguida, apreendendo o sentido, começar a cantá-las com uma melodia apropriada.

Por todo esse tempo permaneci no Quartel Lenine, e oficialmente estava em treinamento para seguir depois para a linha de frente. Quando ingressei na milícia, disseram que eu seria enviado à linha de frente no dia seguinte, mas na verdade foi preciso esperar enquanto era treinada uma nova centúria. As milícias dos trabalhadores, apressadamente formadas pelos sindicatos ao início da guerra, ainda não tinham sido organizadas numa base comum de exército terrestre. As unidades de comando eram a "seção", com cerca de trinta homens, e a "coluna", o que na realidade significava qualquer número maior de homens. O Quartel Lenine era um quarteirão de magníficos edifícios de pedra, com uma escola de equitação e enormes pátios pavimentados com paralelepípedos, tendo sido quartel de cavalaria, capturado durante as lutas de julho. Minha centúria dormia num dos estábulos, debaixo dos cochos de pedra onde ainda estavam escritos os nomes dos cavalos. Todos esses animais foram mandados à linha de frente, mas o lugar continuava cheirando a urina e a aveia estragada. Fiquei naquele quartel perto de uma semana, e a recordação principal que guardei foram os cheiros cavalares, os toques inseguros das cometas (todos os nossos corneteiros eram amadores, e travei conhecimento com os toques espanhóis, pela primeira vez, ouvindo-os fora das linhas fascistas), a batida cadenciada das botinas ferradas no pátio do quartel, as prolongadas paradas matutinas ao sol de inverno, as renhidas partidas de futebol onde cinquenta homens se empenhavam de cada lado, no saibro da escola de equitação. Talvez houvesse uns mil homens no quartel, e outras tantas mulheres, além das esposas dos milicianos, que se encarregavam de fazer a comida. Havia, ainda, mulheres servindo nas milícias, embora não muitas. Nas primeiras batalhas combateram lado a lado com os homens, como se fosse a atitude mais natural do mundo. É uma coisa que parece natural, em época de revolução. Mas as ideias já estavam em transformação.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 4

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173