Homenagem à Catalunha - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 41 / 193

Certa noite, para nosso aborrecimento, eles foram lá em massa e arrecadaram todas as batatas. Descobrimos outra faixa mais adiante, onde praticamente não existia qualquer proteção e era preciso arrancar as batatas enquanto se estava deitado de barriga no chão, trabalho dos mais fatigantes. Se os metralhadores fascistas nos vissem era preciso estender-se, como um rato para passar debaixo de uma porta, enquanto as balas picotavam o chão a poucos metros de distância. A coisa parecia valer a pena, naquela época. As batatas estavam ficando raras, e quem arranjasse um saco cheio delas podia levá-lo à cozinha e trocá-lo por uma garrafa de café.

Ainda assim nada acontecia, e parecia que jamais ia acontecer. "Quando vamos atacar? Por que não atacamos?" eram as perguntas que ouvíamos dia e noite, feitas tanto pelos espanhóis quanto pelos ingleses. Quando se pensa no que a luta representa, parece estranho que os soldados queiram lutar, mas não há dúvida de que o desejam. Na guerra estacionária existem três coisas pelas quais todos os soldados anseiam: uma batalha, mais cigarros e uma semana de folga. Estávamos agora um pouco mais bem armados do que antes. Cada homem tinha em seu poder um fuzil e cento e cinquenta balas, ao invés de cinquenta, e pouco a pouco recebíamos baionetas, capacetes de aço e algumas bombas. Corriam boatos constantes de batalhas que íamos travar, mas passei a crer que os mesmos eram deliberadamente espalhados a fim de manter o ânimo do pessoal. Não era preciso grande conhecimento militar para ver que não teríamos qualquer ação de maior envergadura naquele lado de Huesca, pelo menos durante algum tempo. O ponto estratégico era a estrada para Jaca, que ficava no outro lado. Mais tarde, quando os anarquistas desferiram seus ataques àquela estrada, nossa incumbência foi a de desferir "ataques de sustentação", forçando assim os fascistas a trazer tropas do outro lado.

Durante seis semanas houve apenas uma ação militar em nossa parte da frente. Isso ocorreu quando nossos Soldados de Assalto atacaram o Manicômio, um asilo de doidos que não mais era usado para esse fim e que os fascistas converteram em fortaleza. Havia diversas centenas de refugiados alemães servindo no P .O. U. M., e estavam organizados num batalhão especial chamado o Batallón de Choque, e de um ponto de vista militar eles se achavam em nível bem diferente da milícia - na verdade, pareciam-me mais a soldados do que quaisquer outros elementos que eu tenha visto na Espanha, com exceção dos Guardas de Assalto e alguns elementos da Coluna Internacional. O ataque foi um fracasso, como de costume. É de imaginar quantas operações nessa guerra, no lado do Governo, foram tornadas um fracasso. Os Guardas de Assalto invadiram e tomaram o Manicômio, mas os soldados, não me lembro de qual milícia, que deviam dar-lhes apoio apoderando-se do morro vizinho que dominava o Manicômio, foram deixados muito mal. O capitão que os comandava era um daqueles oficiais do Exército Regular, gente de fidelidade duvidosa, que o Governo teimava em empregar. Seja por medo, ou por traição, foi ele quem preveniu os fascistas, atirando uma bomba quando seus homens estavam a duzentos metros de distância. Tenho o grato prazer de registrar que seus homens o mataram ali mesmo.





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