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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 58
Era impossível deixar de estranhar a miséria dos abrigos fascistas. O monte de roupas, livros, comida e pequenos pertences pessoais que se via em nossos abrigos era coisa que ali não se encontrava. Aqueles pobres conscritos, que nada recebiam de soldo, pareciam não possuir coisa alguma além de cobertores e alguns pedaços de pão mofado. Na extremidade mais distante havia um pequeno abrigo que ficava, em parte, acima do chão, e apresentava uma pequenina janela. Enfiamos a lanterna por ali e ao mesmo tempo soltamos um brado de alegria. Um objeto cilíndrico, em estojo de couro, com mais de um metro de altura e de diâmetro, estava apoiado na parede. Tratava-se do cano da metralhadora, naturalmente! Fizemos a volta e chegamos à entrada, e ali verificamos que o objeto em estojo de couro não era uma metralhadora, mas algo que, em nosso exército destituído de armas, era mais precioso ainda: um telescópio enorme, provavelmente aumentando sessenta ou setenta vezes, com tripé desdobrável. Tais telescópios simplesmente não existiam em nosso lado, e havia uma fome desesperada pelos mesmos. Nós o trouxemos para fora, em triunfo, e o deixamos encostado no parapeito, para carregá-lo depois.

Nesse momento alguém gritou que os fascistas estavam se aproximando. Era certo que a zoada dos tiros se tornara muito mais alta. Mas era óbvio que os fascistas não contra-atacariam pela direita, pois isso obrigá-los-ia a atravessar a terra de ninguém e atacar o seu próprio parapeito. Se tivessem algum juízo, viriam a nós por dentro da linha. Dei a volta até ao outro lado dos abrigos. A posição tinha o formato aproximado ao de uma ferradura, com os abrigos no meio, de modo que não tínhamos outro parapeito cobrindo nossa esquerda. De todas as direções vinha fogo cerrado contra nós, mas isso não fazia grande diferença. O ponto perigoso ficava bem à frente, onde não contávamos com qualquer proteção, e ali por cima passava uma torrente de balas, Deviam estar chegando da outra posição fascista mais além na linha, tornando-se evidente que os Guardas de Assalto não a haviam capturado. Dessa feita, todavia, o estrondo era ensurdecedor, o estrugir ininterrupto de fuzis disparados em massa, que eu estava acostumado a ouvir a distância, sendo aquela a primeira vez que me achava em meio dele. E a essa altura, como é claro, os disparos haviam-se espalhado por toda a linha de frente, quilômetros e quilômetros seguidos. Douglas Thompson, com um braço atingido e inutilizado, pendendo ao lado do corpo, estava encostado no parapeito e disparava contra os clarões, usando para isso o braço bom. Alguém cujo fuzil engasgara o ajudava, municiando sua arma.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 58

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173